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  5. Educação escolar em tempos de pandemia – Informe n.3

INFORME Nº 3: PERCEPÇÃO DE DOCENTES SOBRE A VALORIZAÇÃO PROFISSIONAL NO CONTEXTO DA PANDEMIA

A pesquisa “Educação escolar em tempos de pandemia na visão de professoras/es da Educação Básica”, organizada pelo Departamento de Pesquisas Educacionais da Fundação Carlos Chagas (DPE/FCC) em parceria com a UNESCO do Brasil e com o Itaú Social, foi respondida por 14.285 docentes de todo o país, que, por meio de um questionário on-line composto por 24 questões fechadas e 2 abertas, compartilharam suas percepções sobre diversos aspectos relacionados ao contexto do isolamento social. Os resultados foram organizados e publicados em três informes.

O Informe 1 apresentou dados sobre as atividades docentes nas primeiras semanas de isolamento social, a conciliação entre trabalho e vida privada e as expectativas para o período pós-pandemia.

O Informe 2 indicou similaridades e diferenças entre as redes de ensino públicas e privadas, destacando o recorte de sexo e cor/raça.

Depois das questões objetivas, havia, no questionário, um espaço aberto para as/os professoras/es discorrerem sobre sua percepção acerca de uma possível valorização do trabalho docente no contexto de suspensão das aulas presenciais provocado pela pandemia. Assim, neste Informe 3, apresentamos suas respostas à seguinte questão:

“Na sua opinião, o momento pelo qual estamos passando vai levar a uma valorização ou a uma desvalorização do trabalho docente? Justifique.”

Respondentes
PROCESSAMENTO DAS RESPOSTAS

As respostas a essa pergunta foram processadas pelo programa informatizado de estatística textual Alceste (Analyse Lexicale par Contexte d’un Ensemble de Segments de Texte), que visa a identificar a informação essencial de um texto, quantificando-o de modo a extrair suas estruturas mais significativas, que são apresentadas em conjuntos (clusters). Os dados do estado de São Paulo foram processados em separado devido ao volume de respondentes (9.178) em relação às demais unidades federativas (4.493). Foram excluídas 614 respostas (4,2% do total de participantes) por não atenderem aos critérios de análise do programa. A segunda pergunta, “Você gostaria de comentar sobre algo, em relação ao seu trabalho como professor, que não foi abordado neste questionário?”, apresentou um volume significativo de respostas em branco e por isso não foi analisada.

Sobre o Alceste: O programa realiza a “leitura” do material discursivo, montando um dicionário no qual se identifica o vocabulário de maior frequência. Em uma segunda etapa, ele calcula as matrizes e classifica os segmentos de textos compostos por sucessões de palavras principais e dimensionadas pelo próprio Alceste, em função da semelhança de conteúdo dos enunciados, por meio de uma classificação hierárquica descendente que considera o vocabulário com frequência igual ou superior à média, permitindo a visualização das relações existentes entre os clusters (conjuntos) resultantes desse procedimento. A partir dessa classificação, ele gera um gráfico que indica a quantidade de clusters, sua composição e a relação entre eles, permitindo a visualização da estrutura do material analisado.

RESPOSTAS DE SÃO PAULO

O processamento das respostas do estado de São Paulo teve um aproveitamento de 96%, segundo parâmetros definidos pelo programa Alceste. A figura abaixo mostra as relações entre os conjuntos (clusters). Observa-se a existência de dois blocos independentes formados, respectivamente, pelos Conjuntos 2 e 3 e pelo Conjunto 1. O Conjunto 1 foi a primeira separação feita pelo Alceste, que, ao continuar a “leitura” do material, encontrou ainda mais dois Conjuntos (2 e 3). Isso significa que os Conjuntos 2 e 3 apresentam maior proximidade entre si e menor relação com o Conjunto 1. Constata-se também que o Conjunto 3 foi o que mais agrupou segmentos de respostas definidos pelo programa Alceste por meio de critérios que consideram o tamanho do texto (número de palavras analisadas) e a pontuação das respostas. Apresentam-se, a seguir, os conjuntos pela ordem em que eles aparecem na distribuição realizada pelo programa.

O Conjunto 1 foi composto sobretudo por percepções que expõem dúvidas e indefinições, indicando a dificuldade em atribuir sentido à valorização ou à desvalorização docente.

Apresentamos as palavras que, com base nos cálculos efetuados pelo programa Alceste, são as mais representativas das respostas do estado de São Paulo, bem como trechos delas (segmentos de respostas) seguidos do perfil docente que mais contribuiu para a formação do Conjunto:

Conjunto 1

Exemplos de segmentos de respostas do estado de São Paulo

Não sei informar, só o tempo vai dizer.

Não sei dizer.

Não consigo avaliar esse episódio.

Do Conjunto 2, destaca-se o entendimento de que haverá valorização do trabalho docente pelas famílias, uma vez que pais e responsáveis passaram a sentir “na pele” a dificuldade de acompanhar as/os estudantes nas atividades que antes eram desenvolvidas no contexto escolar. Desse Conjunto depreende-se ainda a sensação de falta de apoio por parte da equipe gestora e de falta de compreensão da sociedade acerca do trabalho docente. No que concerne aos aspectos relacionais, as/os professoras/es queixam-se da dificuldade em estabelecer vínculo com as/os alunas/os, resultado da ausência de convívio presencial.

Conjunto 2

Exemplos de segmentos de respostas do estado de São Paulo


Valorização, porque agora os pais estão sentindo na pele como é difícil orientar seus filhos na aprendizagem.


Valorização. Os pais puderam perceber como é complexo ensinar. Na grande maioria, estão em casa com 1 ou 2 crianças, o professor fica com 33, 35 em sala de aula.


Valorização. Porque os pais estão sentido em casa como é difícil manter o aluno concentrado nas atividades, com o dinamismo presente hoje.


Valorização, pois os pais estão em casa com seus filhos e estão tendo que os ajudar nas lições e tarefas, e estão vendo que não é fácil o trabalho do professor.


Valorização, já que os pais estão sentindo na pele o quão é difícil ter que acompanhar diariamente os filhos na realização das atividades.


Tanto por passar mais tempo em casa com os filhos quanto por ter de auxiliar seus filhos nas tarefas escolares.


Valorização: sentiram falta do professor amigo que, além de estar aprendendo com professor nas realizações dos conteúdos, tem o carinho e atenção que é o que mais os alunos necessitam.


Valorização, porque os pais estão presenciando as dificuldades dos filhos e como é difícil os deixar concentrados na realização das atividades.


Valorização, pois os pais e responsáveis puderam perceber o quão importante é o papel do professor na sala de aula.


Valorização, pois os pais estão percebendo a importância do professor na rotina de vida de seu filho ou filha.


Valorização, porque agora os pais tiveram que assumir a atividade de ensinar e estão vendo como é difícil.


Valorização, pois os pais estão sentindo na pele a dificuldade que é desenvolver atividades com os filhos.


Valorização, pois os pais passaram a assumir seu papel de ajudar os filhos nas atividades escolares.


Valorização, com tanto tempo da criança em casa, os pais estão sentindo o quanto é difícil ensinar.


Valorização, pois os pais estão com dificuldade em auxiliar seus filhos nos estudos em casa.


Valorização, pois os pais estão com muita dificuldade de auxiliar seus filhos em casa.


Valorização, pois os pais e responsáveis dos alunos estão vivenciando o quão difícil é ensinar.


Valorização. Os pais estão sentindo a importância do professor na vida escolar de seus filhos.

O Conjunto 3 evidencia a incerteza do trabalho docente no atual contexto. As respostas indicam que já havia desvalorização profissional antes da pandemia, mas que a falta de reconhecimento pode ser agravada em função do isolamento. Um volume expressivo associa a tecnologia à depreciação da docência. A massiva adesão ao ensino a distância somada à pouca valorização da educação por parte das instituições públicas (“infraestrutura”, “salários defasados”, etc.) contribuiriam para o descaso com o trabalho docente, bem como para a falta de investimento futuro no ensino presencial. Governo, estados, municípios e secretarias foram apontados como instâncias públicas que não valorizam o papel do professor.

Ainda que em menor grau, respostas dissonantes associam o uso das tecnologias às inovações no educar, o que justificaria a impossibilidade de automatizar ou de substituir o trabalho docente.

Conjunto 3

Exemplos de segmentos de respostas do estado de São Paulo

Talvez leve a uma valorização do nosso trabalho por parte de alguma família.

Contudo, a maior valorização deveria vir do governo, que, acredito, não irá se confirmar, pois para que ocorra essa valorização deve haver um aumento substancial do salário.

Acredito que nossa sociedade desvaloriza o que não apresenta resultado quantitativo. Acredito que esse momento traz uma reflexão momentânea, que, assim que for retomando a normalidade, permanecerá a desvalorização do professor.

Seria ótimo se houvesse uma valorização, porém ainda não é momento para isso, mas creio que haverá uma grande reflexão a respeito disso, ou seja, não vai mudar.

Prefiro acreditar que sim, mas, considerando as características da sociedade brasileira e o atual momento político pelo qual estamos passando, não vejo a valorização com um olhar muito otimista.

Mas não acredito que mude muito a longo prazo, talvez um pequeno degrau. A valorização me parece ser imediata, a curto prazo, depois todo mundo esquece.

A tendência seria uma maior valorização, mas nem sempre por causa de uma grande catástrofe todos mudam de opinião. Todos sabem que é por meio da educação que se transforma o mundo, mas é um trabalho que flui em uma via de duas mãos do conhecimento.

Uma faca de dois gumes: se por um lado temos a constatação do profissionalismo e comprometimento por parte do professor, receio que alguns trabalhos presenciais sejam substituídos por trabalhos a distância, o que se torna perigoso.

Valorização; a troca de informações presencial não se compara a uma comunicação a distância.

Esta resposta depende da perspectiva. Já vemos instituições particulares substituindo professor por mecanismos de inteligência artificial em supostas correções mentirosas.

Sugere uma desvalorização por parte do empregador, no campo de atuação.

Acredito que há valorização da escola enquanto instituição de ensino.

Não apenas o professor está enfrentando todo esse impacto do aumento de trabalho, mas também a coordenação.

Desvalorização. Visto que já estamos há anos sem aumento ou reposição salarial e foi falado que ficaremos mais um ano e meio sem o mesmo.

Não vai levar a uma valorização, pois não há e tampouco haverá políticas públicas voltadas para isso agora.

No que diz respeito à valorização, é possível que haja um aumento, ainda que ínfimo.

Me parece que há uma tendência de valorização, pelo menos por parte da família.

RESPOSTAS DAS DEMAIS UNIDADES FEDERATIVAS

O processamento das respostas das demais unidades federativas teve um aproveitamento de 85%, segundo parâmetros definidos pelo programa Alceste. Foram consideradas 5.121 palavras distintas, agrupadas e reorganizadas pelo programa em quatro conjuntos a partir da raiz de cada uma delas.

A figura mostra as relações entre os conjuntos (clusters). Observa-se a existência de dois blocos independentes formados, respectivamente, pelos Conjuntos 1 e 3 e pelos Conjuntos 2 e 4. Isso significa que os Conjuntos 1 e 3 apresentam maior proximidade entre si e menor relação com os Conjuntos 2 e 4. Constata-se também que o Conjunto 2 foi o que mais agrupou segmentos de respostas definidos por critérios que consideram o tamanho do texto (número de palavras analisadas) e a pontuação.

O Conjunto 1 reúne as respostas que indicam uma expectativa de valorização do trabalho docente sustentada pela ideia de que os espaços de atuação da família e da escola estão cada vez mais imbricados. Por outro lado, a falta da presença física das/dos docentes no processo de ensino-aprendizagem é apontada como fator de maior dificuldade para o aluno.

Conjunto 1

Exemplos de segmentos de respostas das demais unidades federativas

Espero que haja valorização, pois a interação afetiva, corpo a corpo, professor com aluno é de fundamental importância para o desenvolvimento da aprendizagem.

Valorização. Porque ficou evidente que a presença do professor e da escola é de fundamental importância para a sociedade.

Valorização. Porque o aluno e sua família perceberam que a explicação e a presença do professor fazem toda a diferença na aprendizagem.

Valorização, pois se observa a importância da mediação do trabalho do professor de modo presencial.

Espero que sim. Porque o professor é de suma importância na aprendizagem do aluno.

Depende; o papel do professor é fundamental na condução do processo do ensino e aprendizagem. Isso leva à valorização da função.

Valorização. Muitos alunos, principalmente do ensino médio, conseguem sentir a importância e a necessidade da presença do professor.

Valorização; eu espero que as famílias entendam a importância do professor no processo de ensino-aprendizagem da criança.

Sim, uma valorização. O trabalho do professor é essencial.

Valorização da presença do professor na escola.

Valorização; a figura do professor é imprescindível para o processo de ensino e aprendizagem.

Valorização. Na afetividade do ensino, na explicação precisa e individual para o aluno.

Valorização. Muitos alunos informam que sentem falta da explicação do professor.

A presença do professor é indispensável na aprendizagem dos alunos.

O papel do professor e da escola é fundamental.

Espero que aumente a valorização, que as pessoas consigam entender a importância da escola e de cada integrante.

Valorização. As pessoas verão que o contato físico entre professor e alunos faz diferença no ensino.

Há uma valorização, pois o aluno sente essa falta da escola, do estar junto ao professor.

Valorização, porque a falta do professor faz o aluno desmotivar.

Valorização do trabalho do professor. Acredito que pais, alunos e sociedade puderam perceber a importância da educação e do educador na vida dos alunos e da sociedade.

Valorização; o professor é insubstituível na vida do aluno.

O Conjunto 2 aponta para a possível desvalorização docente decorrente tanto de uma forte presença das tecnologias aplicadas ao ensino on-line como também pelo agravamento de diferentes aspectos percebidos pelas/os respondentes como negativos antes mesmo do surgimento da covid-19 e que, por isso mesmo, tendem, na percepção deles, a agravar-se: políticas de formação, salários, condições de trabalho e de carreira e investimentos por parte do governo no ensino presencial.

Conjunto 2

 

Exemplos de segmentos de respostas das demais unidades federativas

Não considero possível fazer esse tipo de dedução. Acredito que deve haver mudanças, a sociedade mundial deveria buscar soluções sociais e econômicas de forma conjunta e harmônica. Eu acredito que o problema das pandemias é preocupante e será recorrente no futuro.

Por outro lado, há uma desvalorização do nosso trabalho pelas instituições, porque já somos mal remunerados no Brasil e estamos trabalhando o quádruplo nesse período e recebendo o mesmo.

Ainda é cedo para opinar, o momento é crítico, embora seja verdadeiramente necessária uma avaliação a longo prazo desta situação.

Depende do ponto de vista. Estamos no Paraná, nos sentindo perdidos, humilhados e desvalorizados por um governo que está totalmente perdido, e sem investimento em infraestrutura em TI, está apenas gastando dinheiro em medidas paliativas para não suspender o ano letivo.

Olha, dentro do que estamos vivendo no município onde eu moro, os professores não estão sendo valorizados da forma que deveriam ser.

Desvalorização. A educação básica não comporta educação a distância. As desigualdades latentes no país inteiro, e na minha cidade não é diferente, serão mais acentuadas.

O momento que vivemos será referência para o poder público tornar a educação ainda mais desnecessária e substituível pelo recurso por educação a distância.

Por parte do estado, confesso que não espero nada mais do que a falácia de sempre, principalmente por parte do governo federal que pode usar esse momento para justificar seu projeto de educação básica a distância, mesmo sabendo que não dará certo e sob o risco de se trabalhar mais ainda para repor. Tudo isso sem pensar na remuneração e na saúde mental dos profissionais.

Valorização, mesmo porque é um momento que não escolhemos e muito menos escolhemos para viver. Isso está acontecendo no mundo, não só no nosso país, município ou estado. Estamos percebendo que existe um sindicato querendo se valorizar às custas de um momento difícil.

Trabalhando home office, aumento para rede privada, mas já alertaram que haverá descontos nos salários, ou seja, aumenta o trabalho, mas a renda diminui.

Desvalorização. A profissão já vinha passando por momentos difíceis com o sucateamento da carreira. Neste momento, as novas ferramentas podem ser usadas como desculpas para uma nova forma de ataque aos profissionais.

Depende da concepção de quem esteja liderando as políticas, programas e projetos para a educação. Como estamos em um movimento de mercantilização da educação, sou mais tentado a aceitar que o professor seja considerado desnecessário.

No Conjunto 3 foi possível identificar a percepção das/dos docentes sobre como compreendem o posicionamento dos pais e responsáveis no que tange a possível valorização, motivada, sobretudo, pelo atual momento em que a família tem seu cotidiano transformado durante a pandemia na medida em que passam a orientar a educação de suas/seus filhas/os em tempo integral, o que lhe permite vivenciar o quão difícil e desgastante é a tarefa de ensinar.

Conjunto 3

Exemplos de segmentos de respostas das demais unidades federativas

Valorização. Porque os pais estão tendo que ensinar seus filhos em casa e percebem o quão é difícil para eles entenderem os conteúdos.

Valorização, porque os pais estão vendo o quão é difícil educar. As dificuldades de que falávamos para eles em reunião, agora estão conseguindo entender.

Valorização, pois muitos pais estão tendo dificuldade em manter a rotina escolar e ajudar nas tarefas.

Valorização. Os responsáveis que estão com filho em casa em tempo integral estão percebendo o quanto é trabalhoso planejar, orientar e inovar para que o aluno se sinta estimulado a aprender, participar e entender as atividades.

Valorização. Os pais estão em suas residências precisando acompanhar e auxiliar seus filhos em todas as disciplinas e estão passando mais tempo em casa com a criança.

Valorização, pois os pais sabem o quanto é difícil ensinar e ajudar nas atividades escolares.

Valorização. Os pais estão sentindo na pele a dificuldade de acompanhar os seus filhos em casa.

Valorização; pois os pais estão vendo a dificuldade de conduzir os estudos com os filhos.

Valorização, pois os pais estão desenvolvendo dois papéis e estão percebendo que é difícil manter a atenção dos filhos, tanto para assistir às aulas como para desenvolver as atividades.

Acredito que uma valorização, pois muitos pais, por não terem a didática na hora de ensinar, estão tendo muita dificuldade em realizar as atividades com seus filhos.

Valorização, pois os pais estão percebendo o quanto é difícil educar a criança, imagina o professor com vários alunos em sala de aula.

Valorização, tendo em vista a dificuldade que os pais estão tendo para acompanhar a realização das atividades propostas aos seus filhos.

Valorização, visto que os pais ficaram literalmente com os filhos em casa e, portanto, agora sabem como é difícil ensiná-los.

Valorização, pois os pais têm visto o quanto é difícil manter seus filhos atentos e realizando as tarefas propostas.

Valorização, pois os pais puderam ver de perto como é difícil manter o aluno motivado com recursos escassos.

Valorização, porque os pais estão sentindo como é difícil ensinar os filhos.

Agora estão vendo como é ser professor, pois a grande parte não está dando conta de acompanhar as atividades de seus filhos em casa porque falta paciência.

Valorização, pois os pais estão percebendo como é ensinar crianças, adolescentes.

O Conjunto 4, menos representativo do processamento, expressa majoritariamente posicionamentos de incertezas e de cautela quanto a possível valorização no reconhecimento da profissão docente no cenário da educação brasileira.

Conjunto 4

Exemplos de segmentos de respostas das demais unidades federativas

Acredito que vai continuar a mesma desvalorização, o povo esquece logo das coisas, então, quando voltarmos, a desvalorização vai ser a mesma.

Vai continuar a mesma coisa.

Acredito que continue desvalorizado. Não vai mudar nada.

Sinceramente, penso que não irá mudar.

Não acho que vai mudar nada.

Nada vai mudar.

Sinceramente não sei, acredito que, depois que passar tudo, vamos ser bombardeados como sempre.

Acredito que vai valorizar.

Valorizar quando voltarmos.

Continuará a mesma coisa.

Nada vai mudar.

Acredito que nada vai mudar. A cultura de transferência de responsabilidade da família e da sociedade para a escola continuará.

Desvalorização, porque não vai ser a mesma coisa quando voltarmos.

Nada vai mudar em relação à desvalorização.

Valorização momentânea, pois agora vivem as dificuldades, porém quando retornarmos nada vai mudar.

Acredito que a desvalorização vai aumentar.

Vai permanecer igual. Desvalorizados.

Acho que vai continuar do mesmo jeito que está.

Vai continuar a mesma coisa, o nosso país não é educado.

Acredito que vai valorizar imensamente.

Acho que, quando tudo voltar ao normal, creio eu que os pais irão nos valorizar mais.

Irá valorizar.

Acredito que continue como antes.

PERCEPÇÃO DAS/DOS DOCENTES: SÃO PAULO E DEMAIS UNIDADES FEDERATIVAS

Dos resultados obtidos, não foi permitido observar grandes diferenças entre as respostas do estado de São Paulo e das demais unidades federativas, visto que o processamento evidenciou que a percepção sobre a valorização ou desvalorização do trabalho docente perpassa formas de pensar compartilhadas, associadas tanto a aspectos afetivos ("vínculo”, “contato”, “convívio”, “paciência”), cognitivos (“estudo”, “ensinar”, “aprendizagem”, “educação”, “educação a distância”), sociais (“instituições públicas”, “governo”, “política”, “escola”, “casa”), como pragmáticos (“dia a dia”, “dificuldades”, “carga horária”, “rotina”, “salário”).

Por outro lado, foi possível depreender eixos de respostas. Um, ancorado na esperança, associado a expectativas de valorização, sobretudo por parte das famílias; outro, mais pessimista, fundado no descrédito na mudança; e, por fim, um que evidencia a insegurança e a incerteza do contexto atual, composto por textos pouco precisos sobre a (des)valorização do trabalho docente. O estudo realizado reforça com isso um dos grandes desafios educacionais na atualidade: incluir a escuta e o diálogo sobre os limites, as necessidades, as inquietações e os desafios vivenciados pelas/os professoras/es em um contexto tão adverso como o de pandemia.

O DPE/FCC reafirma seu compromisso com a educação, ao reconhecer que são as/os professoras/es que nos informam sobre as táticas de ensino que vêm sendo utilizadas, sobre as repercussões de suas ações na aprendizagem, sobre a construção de novas formas de ser e de estar na profissão, sobre novas configurações de práticas docentes, bem como sobre as dificuldades enfrentadas.

A FCC continuará desenvolvendo projetos para identificar e compreender a percepção de docentes e de estudantes acerca da educação escolar no atual contexto, considerando as especificidades de cada etapa/modalidade de ensino oferecidas em escolas públicas e privadas no Brasil. O conhecimento gerado pretende contribuir para a formulação de respostas coerentes e equitativas que minimizem os efeitos da pandemia nas oportunidades educacionais de crianças e jovens brasileiros da educação básica, ajudando também a refletir sobre o reconhecimento e a valorização do trabalho docente.

 
Sobre a pesquisa

OBJETIVO DO QUESTIONÁRIO: Verificar como as/os professoras/es das redes públicas e privadas estão desenvolvendo suas atividades, como conciliam o trabalho profissional com a vida privada e quais suas expectativas para o período de retorno às aulas presenciais.

RESPONDENTES: 14.285 docentes de todas as 27 unidades da federação.

PERÍODO DE COLETA: 30 de abril a 10 de maio de 2020.

METODOLOGIA: Amostra não probabilística, por conveniência. Foram realizados testagem piloto e ajustes com especialistas da área.

QUESTIONÁRIO: 24 perguntas fechadas e 2 abertas.

COLETA DE DADOS: Plataforma Survey Monkey.

PROCESSAMENTO: Metodologia Alceste.

Fundação Carlos Chagas | Departamento de Pesquisas Educacionais

Coordenação: Lúcia Villas Bôas e Sandra Unbehaum

Pesquisadoras: Adelina Novaes, Adriana Pagaime, Amélia Artes, Cláudia Pimenta, Marina Nunes e Thaís Gava

Pesquisadores colaboradores deste Informe: Ricardo Henrique Pucinelli (Lapeq - FE/USP) e Vicente Sarubbi Junior (Uems)

Estatística:  Raquel Valle

Produção editorial e projeto gráfico: Adriana Pagaime, Gabriel de Moraes Domingues Conceição e Marcus Vinicius dos Santos Souza

Revisão: Adélia M. Mariano Ferreira e Camila Maria Camargo de Oliveira