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Nova Escola: Clima escolar: para uma escola mais segura e mais justa, é preciso se conhecer melhor

 

|08/11/18

Grupo de pesquisa da Unesp/Unicamp criou questionários com oito dimensões que possibilitam conhecer os aspectos positivos da escola e aqueles que necessitam de intervenção

POR: Adriano Moro, pesquisador da FCC

Muito tem se discutido sobre uma Educação de qualidade, uma formação integral, que considere o aluno nas suas diferentes competências, sejam elas cognitivas, emocionais ou sociais. A nova Base Nacional Comum Curricular (BNCC) traz um conjunto de competências e habilidades que remete a diferentes características da formação dos estudantes e que dialoga com a possibilidade de melhoria da educação. Somado a diversos esforços nessa direção, um aspecto deve estar em pauta: o ambiente no qual a educação formal, escolar se efetiva e a percepção sobre o clima escolar.

Diversas pesquisas relacionam o clima escolar positivo a um melhor desempenho dos estudantes, maior participação profissional dos professores e gestores, assim como à manutenção de um ambiente saudável, promovendo o bem-estar de todos os que na escola convivem (THAPA, et al, 2013; COHEN et al., 2009; PERKINS, 2008; BERKOWITZ et al., 2017).

Nesse sentido, o clima escolar pode representar uma variável importante para uma educação de qualidade. Isto é, uma escola que é percebida com um bom clima apresenta boas relações entre as pessoas; um ambiente de cuidado e confiança; qualidade no processo de ensino e de aprendizagem; espaços de participação e de resolução dos conflitos de forma dialógica; proximidade dos pais e da comunidade; uma boa comunicação; a sensação de que as regras são justas, além de um ambiente estimulante e apoiador, em que os alunos se sintam seguros, apoiados, engajados, pertencentes à escola e respeitosamente desafiados.

Contudo, é preciso considerar que a escola é um universo complexo em que interagem múltiplas e inter-relacionadas dimensões. Justamente por essas razões é necessária uma avaliação global para se conhecer o clima, de modo a entender como os alunos, professores e gestores percebem os pontos fortes, frágeis e as necessidades da instituição sob os mais diferentes aspectos. Com esse objetivo, o Grupo de Estudos e Pesquisas em Educação Moral (GEPEM), da Unicamp/Unesp, do qual faço parte, elaborou questionários capazes de medir tais percepções a partir de oito dimensões inter-relacionadas, que refletem o cotidiano escolar.

Os questionários que avaliam o clima escolar nas escolas brasileiras estão organizados da seguinte forma: as relações com o ensino e com a aprendizagem (dimensão 1); as relações sociais e os conflitos, na escola (dimensão 2); as regras, as sanções e a segurança, na escola (dimensão 3); as situações de intimidação entre alunos (dimensão 4 – somente para alunos); a família, a escola e a comunidade (dimensão 5); a infraestrutura e a rede física da escola (dimensão 6); as relações com o trabalho (dimensão 7) e a gestão e a participação (dimensão 8). As duas últimas são aplicadas somente a professores e gestores.

Embora tais questionários possibilitem a avaliação de cada uma das dimensões em separado, justamente para a escola identificar o que já faz bem e o que precisa ser melhorado, o clima escolar positivo só é possível se todas as oito dimensões estiverem em harmonia, funcionando bem.

Uma das dimensões, as relações com o ensino e com a aprendizagem, avalia como os integrantes da escola percebem a valorização das pessoas com o conhecimento e com as aprendizagens; como os professores e gestores estão comprometidos com a educação de todos, com a motivação, a participação e o bem-estar daqueles que fazem parte da escola.

Este bem-estar se revela também ao tratarmos das relações sociais e os conflitos na escola, no sentido de entender como tem sido o tratamento entre as pessoas, como são percebidas as atuações dos profissionais da escola com relação aos problemas de convivência, as incivilidades, a indisciplina, os maus tratos, bem como, as situações de intimidação entre alunos. Este se refere às situações de bullying, um fenômeno violento, entre pares, que, embora seja não o mais frequente, é o mais prejudicial ao estado emocional e físico dos estudantes. Por isso, foram elaborados itens para verificar a ocorrência de tal fenômeno e onde ele acontece. Não temos dúvidas de que só nos sentiremos pertencentes ao ambiente de forma segura e confiante quando as relações entre as pessoas forem positivas, com respeito, solidariedade e harmonia.

Um autor americano chamado Jonathan Cohen diz que a qualidade da vida escolar se releva quando a percepção dos professores, alunos, gestores e pais são positivas em relação aos valores compartilhados, às regras estabelecidas e acordadas, às metas propostas, ao desenvolvimento do ensino e aprendizagem, às relações interpessoais e estruturas organizacionais (COHEN, 2006). Entendemos que seja fundamental verificar como são percebidas as intervenções aos conflitos interpessoais, a elaboração, conteúdo e legitimidade na aplicação das regras e sanções na escola, de modo a se vivenciar a justiça e a segurança no ambiente educacional.

infraestrutura e a rede física da escola, assim como as relações entre a escola, a família e a comunidade são dimensões também fundamentais para a avaliação do clima. Com elas podemos verificar como são percebidos os espaços físicos e as condições estruturais da escola, o uso, a adequação e o cuidado com tais espaços, os mobiliários e materiais didáticos, a organização do espaço educacional, o envolvimento e a proposição de atividades envolvam as famílias e a comunidade do entorno da escola.

Por fim, outras duas dimensões, porém direcionadas somente aos professores e gestores das escolas (as relações com o trabalho a gestão e a participação) avaliam o sentimento dos profissionais da escola sobre o ambiente de trabalho, como percebem as características da dinâmica profissional na instituição, as práticas de estudos e reflexões sobre suas funções e ações em prol de um ambiente de cooperação e participação de todos.

A avaliação do clima escolar poderá, portanto, revelar aspectos positivos da dinâmica escolar, bem como elementos que merecem intervenções, em busca de um clima positivo em sala de aula e na escola como um todo.

Nosso objetivo é que os questionários possam con­tribuir para um diagnóstico de clima, de forma compartilhada, a fim de que possamos responder a uma pergunta que parece simples, porém, é cheia de significados: que tipo de escola queremos que nossa escola seja?

Se desejamos uma escola justa, segura, em que a convivência com o outro e o trabalho com o conhecimento sejam valorizados e que possamos nos sentir pertencentes àquele espaço, é preciso que a escola primeiramente se conheça, sob as diferentes e compartilhadas perspectivas. Desse modo, possa planejar ações com base em dados de pesquisas confiáveis, levando em conta o que já fazem bem e o que precisa de melhoras. E tendo em vista também a concepção de todos, em benefício de ações mais assertivas e objetivas por uma educação de qualidade.

Quer avaliar o clima escolar? Acesse aqui o manual de orientação para aplicação dos questionários.  

Adriano Moro é doutor em Educação pela Unicamp e mestre em Psicologia da Educação pela PUC-SP. Ele integra o Grupo de Estudo e Pesquisa em Educação Moral (Gepem), da Unicamp/Unesp e atua no departamento de pesquisas da Fundação Carlos Chagas (FCC).

Fonte: Nova Escola