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Pesquisa aponta maior participação feminina na construção civil. Apesar do avanço, práticas de assédio moral e sexual ainda são comuns no setor, indica estudo

 

|04/07/19

Apesar do avanço, práticas de assédio moral e sexual ainda são comuns no setor, conforme indica estudo realizado pela Fundação Carlos Chagas com apoio da Fapesp

A FCC (Fundação Carlos Chagas) acaba de lançar o número 56 da Série Textos FCC. Nesta edição, são apresentados os resultados do estudo Engenharia, trabalho e relações de gênero na construção de habitações. Entre as principais conclusões está a constatação de que, se ainda não é expressiva numericamente, é mais comum atualmente a presença de mulheres trabalhando na construção civil e nos canteiros de obras. A pesquisa trouxe ainda fortes indícios de imbricação entre práticas de assédio moral e a identidade profissional dos/as engenheiros/as civis que trabalham em obras.

Segundo o estudo (veja metodologia abaixo), o estereótipo do(a) “engenheiro(a) de verdade” não se restringe ao conhecimento ou o domínio de habilidades de gestão e de resolução de problemas, mas engloba também habituar-se ao linguajar rude – especialmente por parte da chefia –, às jornadas prolongadas e às condições desconfortáveis, muitas vezes insalubres.

“O assédio moral é construído junto com a identidade profissional dos engenheiros residentes ou de obras, a tal ponto de eles entenderem que, sem situações de assédio, grosseria e humilhação, eles não têm sua formação prática completa e legitimada”, afirma Maria Rosa Lombardi, coordenadora do estudo e pesquisadora sênior do DPE (Departamento de Pesquisas Educacionais) da FCC.

Além do assédio moral, as mulheres que atuam no setor enfrentam situações explícitas de discriminação de gênero nos locais de trabalho. Mais do que os homens, elas aceitam todo tipo de desafio para provar que “dão conta” das tarefas. A gravidez e o direito à licença-maternidade muitas vezes é considerado por elas como um empecilho, e não como direito. Outra constatação é que poucas conseguem chegar à posição de engenheiras, de gerentes, de coordenadoras de obra ou diretoras de áreas de engenharia nas construtoras.

Coletivos femininos promovem discussões sobre gênero na sociedade e nas engenharias

Uma das vertentes do estudo consistiu em analisar a atuação de três coletivos femininos que discutem questões de gênero na sociedade e nas engenharias. São eles: Programa de Equidade de Gênero e Raça (Crea-RJ), Diretoria da Mulher (Fisenge) e Grupo de Estudos de Gênero da Poli/USP (Poligen). Cada um deles difere quanto ao seu alcance, à sua organização, bem como às perspectivas de futuro.

As conclusões destacam a atuação da Diretoria da Mulher como uma das iniciativas mais estruturadas, enfatizando o alcance, a organização, a coesão grupal em torno da definição de metas e a persistência na realização de atividades relacionadas a essas metas, como, por exemplo, o combate ao assédio moral, a formação política contínua das mulheres e a ocupação de espaços de poder.

Na avaliação de Maria Rosa Lombardi, as três iniciativas representam um universo feminino em movimento, dinâmico e inovador. “A simples existência desses coletivos, assim como as discussões e debates e as atividades que eles puderam e poderão desenvolver, promovem a conscientização sobre as desigualdades no mercado de trabalho e na sociedade”.

Metodologia

Foram realizados dois eixos de investigação. O primeiro, intitulado Pesquisa na construção civil, teve como objetivo conhecer e analisar o trabalho de engenheiro civil em empresas construtoras de habitações, atentando para eventuais transformações, acontecidas desde o início dos anos 2000, no seu conteúdo, na sua organização e nas condições de seu exercício, à luz dos referenciais teóricos da sociologia do trabalho e das relações sociais de sexo/gênero. Concomitantemente, foi realizada a Pesquisa com coletivos de engenheiras, que acompanhou as atividades e entrevistou integrantes de três coletivos de mulheres, que discutem questões de gênero na sociedade e nas engenharias: o Grupo de Estudos de Gênero.

O método qualitativo foi privilegiado nas duas investigações, por meio de entrevistas individuais e coletivas. Também foi realizada uma ampla revisão de estudos prévios sobre a dinâmica e as transformações no setor da construção civil no Brasil. Por fim, foram coletadas e analisadas informações quantitativas referentes a empregos e nível de atividade econômica nacional e do setor de construção civil no período 2000-2015, para contextualizar longitudinalmente a temática em discussão, a partir das estatísticas das PNADs (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio) do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) e da Rais (Relação Anual de Informações Sociais) do Ministério do Trabalho.

A pesquisa contou com financiamento da Fapesp (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo) e da FCC. Também assinam o estudo Adriano Moro, pesquisador do DPE/FCC e doutor em Educação, e Fernanda Mandetta, mestre em Educação, ambos titulados pela Unicamp (Universidade Estadual de Campinas).

Sobre a publicação

A Série Textos FCC publica dados e achados dos estudos realizados no âmbito do DPE (Departamento de Estudos Educacionais), trabalhos contemplados por prêmios conferidos pela instituição, bem como pesquisas feitas ao longo de pós-doutorados na Fundação Carlos Chagas. Trata-se de textos mais extensos do que artigos acadêmicos e que oferecem, em regra, informações detalhadas sobre os procedimentos metodológicos utilizados.