|13/11/18

Incomodada com a ansiedade e o desinteresse de seus alunos, a professora de Licenciatura em Ciências Biológicas da UFU (Universidade Federal de Uberlândia), Daniela Franco Carvalho, encontrou no som do Cajón uma forma de se aproximar dos estudantes e despertar a empatia e o entusiasmo pelo ensino e aprendizagem. Com o projeto “CAJÓN: Estratégia Interventiva para Compartilhamento de Emoções em Sala de Aula”, ela foi um dos três vencedores da 8ª edição do Prêmio Prof. Rubens Murillo Marques, realizado pela Fundação Carlos Chagas.

O projeto nasceu da necessidade de superar um problema recorrente: a dificuldade em dar prosseguimento a estudos mais complexos frente ao desinteresse da turma. Ela perguntava se o próprio currículo de Ciências Biológicas não desestimulava os estudantes, em especial, por este ser centrado em citações e procedimentos metodológicos elaborados por autores com os quais os alunos não se reconheciam. Frente a este contexto, constatou que havia poucas oportunidades para expressão e criação na diversidade de pensamentos em sala de aula.

A desmotivação dos alunos se somava a sua inquietação enquanto professora formadora. Afinal, a aproximação com os futuros docentes era uma responsabilidade sua. Foi então que, por interesse pessoal, iniciou aulas particulares de percussão e conheceu o Cajón: um instrumento de origem afro-peruano, que simbolizou em sua vibração o que ela pretendia passar para os alunos. “Queria subverter a lógica de que por meio do conteúdo curricular entramos em contato com os estudantes. Desejava entrar em contato com os estudantes para depois trabalhar com eles os conteúdos curriculares”, lembra a professora.

Após aprofundar-se no estudo dos teóricos Mikhail Bakhtin e Zygmunt Bauman, a professora reviu seu planejamento para as aulas de “Ciências e Mídia”. Os estudantes foram convidados a participar de dinâmicas e compartilhar histórias e trajetórias pessoais a partir de um objeto, de uma fotografia e de um texto autoral. Por meio de itens como sapatinhos de bebê, fotografias de pessoas queridas, cartas, embalagens de presentes, roupas, adereços e muitos outros artigos que fazem lembrar o vivido. Esses momentos ampliaram a empatia e possibilitou maior aproximação entre professora e estudantes.

Como resultado, é possível indicar as duas turmas lotadas da disciplina “Ciências e Mídias”, muitas vezes com fila de espera para a matrícula, sem evasão e com uma taxa de assiduidade em torno de 90%. Ou, pelos depoimentos espontâneos daqueles que atuarão na carreira docente e que afirmam que irão se importar com seus alunos, assim como Daniela se importou
com eles.

As três professoras finalistas receberão um prêmio de R$20 mil, um diploma e um troféu, réplica da escultura de uma artista plástica Vera Lucia Richter, e seus projetos serão publicados, em detalhes, na próxima série Textos FCC – publicação da Fundação Carlos Chagas.

“A cada ano, o processo de seleção tem sido cada vez mais gratificante, pois há experiências muito interessantes Brasil afora, e é muito difícil comparar projetos que são excelentes. O critério diferenciador, que discriminou as três vencedoras, foi o foco nos procedimentos didáticos utilizados tendo em vista à aprendizagem da docência do futuro professor”, afirma Patrícia Albiéri de Almeida, uma das coordenadoras do Prêmio e pesquisadora do Departamento de Pesquisas Educacionais da FCC.

Sobre a iniciativa
Criado em 2011, o Prêmio é também uma homenagem ao Prof. Dr. Rubens Murillo Marques, presidente de honra e um dos fundadores da Fundação Carlos Chagas, em reconhecimento a sua trajetória acadêmica e ao seu empenho no fortalecimento desta instituição.

Fonte: Uberlândia Ligado