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Dados para além do gênero

Com olhar voltado à importância dos bancos de dados e séries históricas na educação, a pesquisadora Amélia Artes fomenta o debate sobre relações entre gênero, raça e políticas públicas educacionais no Brasil

27/06/22 | Por Luanne Caires

Fundação Carlos Chagas. Gênero, Raça/Etnia: Educação, Trabalho e Direitos Humanos. Dados para além do gênero. Amélia Artes. A imagem tem fundo cinza e o texto tem as cores cinza escuro e vermelho. No canto superior direito, há detalhes ondulados em vinho.

A Fundação Carlos Chagas é uma instituição pioneira no desenvolvimento dos estudos de gênero no Brasil e segue como referência na área com as produções de seu grupo Gênero, Raça/Etnia: Educação, Trabalho e Direitos Humanos. Hoje, o grupo é composto por cinco mulheres à frente de projetos de pesquisa, além de uma equipe de bolsistas e colaboradores. Para resgatar o caráter colaborativo, inspirador e histórico do processo de construção de conhecimento na área de gênero e equidade, a série Gênero, raça e etnia: uma história de pesquisa tecida a muitas mãos apresentará, ao longo dos meses de junho e ju, como mulheres e pesquisadoras desse campo de estudos influenciaram as trajetórias de cada uma das mulheres que integram esse grupo de pesquisa na Fundação Carlos Chagas.

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O debate sobre gênero entrou na vida de Amélia Artes como consequência indireta da maternidade. A psicóloga formada pela Universidade de São Paulo (USP) trabalhava, na primeira metade dos anos 1990, com assistência a crianças em condição de rua na então Secretaria do Menor do Estado de São Paulo. Com a chegada dos filhos, Amélia decidiu voltar para o ambiente universitário e, na disciplina de Política Educacional do curso de Pedagogia da USP, encontrou duas paixões: a análise de dados e a pesquisa na área de gênero. O encontro foi possível graças ao trabalho da professora Marília Carvalho, uma referência nos estudos de Educação e Relações de Gênero. Acompanhada e orientada por Marília, Amélia trilhou seu mestrado e doutorado, sempre ligada às diferenças de desempenho escolar entre meninos e meninas e à influência do trabalho sobre essas diferenças. 

Também foi ao lado de Marília que Amélia se aproximou de outra grande referência em sua trajetória profissional: a pesquisadora Fúlvia Rosemberg, da Fundação Carlos Chagas, que marcou os estudos sobre educação infantil, gênero e ações afirmativas raciais no Brasil. “Um dia a Marília me ligou e falou que a Fúlvia tinha lido meu doutorado e precisava de alguém para trabalhar com dados. (…) Eu sabia quem era Fúlvia Rosemberg e eu tinha esse desejo de trabalhar com a Fúlvia. Aí eu fui”, conta Amélia. Foi o começo da carreira de Amélia na área de pesquisa da Fundação Carlos Chagas, em 2012. 

Juntas, Amélia e Fúlvia desenvolveram vários trabalhos com dados do censo demográfico, disponibilizados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Também trabalharam em dois programas ligados à ação afirmativa na pós-graduação brasileira, com foco no estímulo à equidade étnico-racial: o Programa Internacional de Bolsa (International Fellowship Program, em inglês) e o Programa de Dotação Pré-Acadêmica – Equidade, ambos financiados pela Fundação Ford. 

Com a morte de Fúlvia em 2014, Amélia se aproximou ainda mais daquela que se tornou sua terceira grande referência: Sandra Unbehaum, colega em vários projetos. As duas pesquisadoras foram responsáveis por conduzir o Projeto Equidade, que estava em andamento sob coordenação de Fúlvia, e, apesar de resistências e desafios, ambas construíram uma trajetória própria e de grande relevância acadêmica. 

Ao falar sobre os estudos recentes, a pesquisadora da Fundação Carlos Chagas reúne elementos que refletem toda a sua trajetória. A pesquisa Desigualdades na educação brasileira: ressignificação do abandono escolar no contexto de pandemia utilizou dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios – COVID19 (PNAD COVID19) para construir um retrato do abandono escolar em 2020.  “Fomos nos dados sobre um assunto que todo o mundo estava discutindo [o abandono escolar durante a pandemia de covid-19]. Fomos ver se o estudante era branco ou negro, se era menino ou menina. Não é qualquer aluno que abandona. Não é um aluno imaginário. É um menino negro”, conclui. 

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Gênero, Raça/Etnia: Educação, Trabalho e Direitos Humanos
As pesquisas do grupo privilegiam a análise das relações de gênero e étnico-raciais em diferentes espaços de interação social, visando a promover os direitos humanos de populações historicamente discriminadas.

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