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A ‘chama que não tem pavio’ da docência

Experiência formativa premiada na 11ª edição do Prêmio Professor Rubens Murillo Marques foi realizada em curso de Licenciatura em Química da USP e evidencia entrelaçamento entre trajetórias de formação de universitários e estudantes do ensino médio

13/05/22 | Por Luanne Caires

Ao som de Playing for Change, o professor Guilherme Marson, do Instituto de Química da Universidade de São Paulo (IQ-USP), desenvolveu a proposta Lab Vivo — um curso de extensão on-line voltado a estudantes do ensino médio e organizado por licenciandos da disciplina Instrumentação para o Ensino de Química. Iniciado em 2020 e com uma segunda edição em 2021, o curso foi uma resposta às limitações pedagógicas impostas pela suspensão de atividades presenciais em escolas e universidades durante a pandemia de covid-19. Mas o que foi proposto como solução pontual se transformou em uma iniciativa capaz de fortalecer reflexões sobre identidade docente, trajetórias formativas e o papel da ciência e da informação no exercício da cidadania. 

As atividades realizadas no Lab Vivo são o tema do projeto Percursos entrelaçados: a travessia de alunos-professores a professores-alunos, um dos três vencedores da 11ª edição do Prêmio Professor Rubens Murillo Marques. O Prêmio busca valorizar e divulgar experiências realizadas em cursos de licenciatura e que contribuem para a formação de professores para a educação básica. 

As aulas oferecidas no Lab Vivo partem de um vídeo que veicula desinformação sobre a covid-19 e incluem encontros em que os estudantes elaboram hipóteses sobre o conteúdo — que são testadas por meio de experimentos e análise dos resultados. No processo, os estudantes debatem as consequências da propagação de informações falsas. Para Guilherme, o embate entre o conhecimento científico e o senso comum é importante para perceber que a desinformação se apropria de elementos da ciência, mas com um propósito de manipulação, o que envolve uma questão ética: “A questão não é só se está certo ou errado, se [a informação] se comprova ou não. A questão é o que eu faço com isso. Esse percurso é o que foi usado para motivar tanto os meus alunos quanto o pessoal do ensino médio”, afirma.

Diversidade e identidade

Para fortalecer as trocas na construção da identidade docente e a aproximação entre teoria e prática, a preparação para o Lab Vivo conta com a participação de pessoas em diferentes níveis de experiência na sala de aula: desde graduandos que acabaram de iniciar suas práticas docentes em estágios até aqueles que já atuam há anos com o ensino. Além disso, Guilherme convida professores que atuam há bastante tempo na educação básica para participar das conversas de preparação do curso. Os professores trocam vivências com os graduandos e oferecem sugestões sobre a aplicabilidade das propostas. 

O coordenador do Lab Vivo explica a importância da experiência para a construção da identidade docente: “Há uma forma de pensamento relativamente contemporânea que se chama PCK, do inglês Pedagogical Content Knowledge, que é a ideia de que há algo próprio do ser professor que é específico do que ele ensina. Não tem um professor que ensine qualquer coisa. Então isso [a identidade] se constrói muito na sala de aula”. 

Importância do reconhecimento

Em suas edições iniciais, a proposta do Lab Vivo já envolveu 39 licenciandos e atendeu 197 estudantes de ensino médio da rede pública. Guilherme avalia que, para as licenciandas que são coautoras do projeto, o Prêmio Professor Rubens Murillo Marques é um reconhecimento importante no início da formação profissional. E, para ele que já atua há anos como docente universitário, a premiação também é uma maneira de mostrar que os trabalhos desenvolvidos na universidade com foco no ensino e na extensão são relevantes e de qualidade, mesmo que não tenham fator de impacto para as pesquisas. “Meu impacto é outro. Eu não trabalho só para ter papers [artigos] na universidade, trabalho para ter people [pessoas]. Esse prêmio é sobre pessoas (…) e é uma mensagem importante da Fundação Carlos Chagas”, afirma. 

Guilherme conta que decidiu se tornar químico por ter começado a dar aula para colegas de escola aos 16 anos e que o Lab Vivo foi um reencontro com a sua história enquanto docente. O projeto também foi uma inspiração para se dedicar a pesquisas mais aplicadas, com impactos mais rápidos no campo da educação e mais acessíveis a professores que atuam nas escolas. 

Ele prepara a edição de 2022 ao som de uma nova trilha sonora eclética, que inclui Innuendo, da banda de rock Queen, a suíte de introdução do balé Lago dos Cisnes, do compositor russo Piotr Tchaikovski, e a música Clube da Esquina N° 2, de Lô Borges. Esta última traz um trecho que o professor destaca em sua relação com o Lab Vivo: “E basta contar compasso / E basta contar consigo / Que a chama não tem pavio / De tudo se faz canção / E o coração na curva de um rio”. 

Nas palavras de Guilherme, “ser professor, para quem gosta de ser professor, para quem é um bom profissional, tem a ver com essa chama que cada pessoa tem, que é uma chama que não tem pavio, é imaterial”. 

Saiba mais
Percursos entrelaçados: a travessia de alunos-professores a professores-alunos
O detalhamento do projeto desenvolvido pelo professor Guilherme Marson no Instituto de Química da Universidade de São Paulo está disponível para leitura na série Textos FCC.
http://publicacoes.fcc.org.br//index.php/textosfcc/article/view/9170

Prêmio Professor Rubens Murillo Marques
As inscrições para a 12ª edição do Prêmio estão abertas até 30 de maio. Acesse o edital e os projetos contemplados ao longo da história da premiação.
https://www.fcc.org.br/fcc/premios/premio-professor-rubens-murillo-marques

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