Lugar das Mulheres no Mercado de Trabalho: Setores de atividade e estrutura ocupacional

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No longo período de tempo compreendido entre 1970 e 2007, os padrões de localização dos trabalhadores e das trabalhadoras no mercado de trabalho apresentaram algumas alterações. No último ano da série, a indústria- aqui incluídas a de transformação e de construção civil-, e o agropecuário, seguidos do comércio, nessa ordem, concentraram a ocupação masculina. Em relação a 1970, registrou-se uma inversão, o agropecuário perdendo terreno em favor da indústria: 51% dos ocupados trabalhavam no agropecuário e 20% na indústria, em 1970, versus 21,5% e 27,2%, respectivamente, em 2007 ( TABELA 1). A mesma tabela mostra que, no caso das trabalhadoras, os serviços- aqui inclusos alojamento e alimentação, educação, saúde e serviços pessoais, serviços domésticos e outros serviços coletivos, sociais e pessoais¹ - mantêm-se como áreas privilegiadas de inserção das mulheres no mercado de trabalho, mesmo que, no decorrer do longo período aqui considerado, venha se dando uma diminuição da ocupação feminina, que, concomitantemente, se diversificou. Assim, em 1970, 54,9% das ocupadas o eram nos serviços e no setor social, em 1998, 47,5%, em 2002, 44,1% e, em 2007, 43,6%.

Ressalve-se que, a partir de 1992 o IBGE- Fundação Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística ampliou o conceito de trabalho adotado em seus levantamentos, o que contribuiu para a maior visibilidade do trabalho feminino. Além disso, a partir do Censo de 2000, com a CNAE- Classificação Nacional de Atividades Econômicas, que adota novas desagregações dos setores e seções de atividade , pôde-se esclarecer o peso de algumas atividades na ocupação feminina e diferenciá-la, por comparação, do padrão masculino. É assim que, por exemplo, na prestação de serviços, em 2007, 16,4% das ocupadas e cerca de 1% dos ocupados executavam serviços domésticos. Ou ainda, 16,9% das mulheres estavam exercendo atividades na área de educação, saúde e serviços sociais contra apenas 3,6% dos homens. E essas proporções são assemelhadas às de 2002 (TABELA 2).

Mas quais são as profissões desenvolvidas pelos brasileiros e pelas brasileiras?

Analisando a matriz ocupacional de todos os trabalhos desempenhados pelos brasileiros e brasileiras, entre os anos 1998 e 2007, dois movimentos igualmente importantes podem ser identificados ( TABELA 3 )²

O primeiro diz respeito a um padrão de inserção profissional segundo o sexo que tendeu a se repetir em 2002 e 2007, denotando uma clara segmentação quanto às áreas de atuação profissional de homens e de mulheres. Cerca de 1/3 destas, por exemplo, desenvolviam profissões dos serviços, um pouco mais de 10% em atividades de vendas no comércio, igual proporção em serviços administrativos. A proporção de trabalhos femininos relativos à agropecuária, porém, decresceu no período, acompanhando a queda da ocupação geral no setor: de 16,5% em 2002, para 13,8% em 2007. Quer dizer, os dados informam que para o grosso do contingente feminino, as chances de trabalhar são maiores em determinados setores econômicos - principalmente o setor de Prestação de Serviços - , e em grupos de ocupações típicos desse setor, nos quais sua presença já é tradicional, como professoras, pessoal de enfermagem, secretárias, recepcionistas. Representam, portanto, continuidades no padrão de ocupação das mulheres.

Os homens, por seu lado, têm maiores chances em trabalhos de produção de bens e serviços industriais, de reparação e manutenção ( cerca de 33%), em profissões da agropecuária ( pouco mais de 20% e também decrescente no período), de vendas ( 11%), em profissões técnicas de nível médio ( próximo dos 7%).

O segundo movimento é a ampliação do leque profissional das mulheres nos últimos 40 anos, de forma inquestionável e contínua, que se deve, entre outras razões, ao aumento da sua escolaridade e à diversificação das suas escolhas educacionais ( Veja série Mulheres brasileiras, educação e trabalho). Os órgãos de imprensa nos lembram desse movimento com freqüência, ao localizarem algumas "pioneiras" , p.ex., pilota comercial, reitora de universidade, presidenta de banco ou de grande empresa, militar, deputada,senadora ou vereadora, mas também mecânica de automóvel, atleta, tratorista, condutora de ônibus ou caminhão etc. As informações das tabelas trazem indícios que ratificam esse cenário. É crescente a participação feminina, particularmente nas profissões de nível superior das ciências e das artes ( 7,9% em 1998, 8,3% em 2002 e 9,5% em 2007) e, embora menos expressiva, em cargos dirigentes como membros superiores do poder público, gerentes e diretores de empresas ( de 3,5% em 1998 para 4,2% em 2007). Esses números adquirem maior poder explicativo quando comparados à ocupação masculina, estável em torno dos 4,5% a 5% nos dois grupos de ocupação mencionados, durante todo o período analisado.

Livro - Women & Work: Photographs and Personal Writings
Maureen R. Michelson & Michael R. Dressler
NewSage Press

Para observar mais de perto esses dois padrões de gênero nas profissões, classificamos as famílias ocupacionais (agregados de ocupações) em faixas de maior ou menor presença feminina, pelo montante de empregos formais destinados às mulheres, em 2007 e , dentre cada faixa selecionamos profissões femininas mais e menos tradicionais, como exemplos ( TABELA 4) .

Assim, entre as famílias ocupacionais em que mais de 70% dos empregos são femininos, estão, p.ex., profissões de diversos níveis de qualificação, em que a presença da mulher já é tradicional, como as Fonoaudiólogas ( 96%), as Nutricionistas (94%), as Professoras de nível superior do ensino fundamental de 1ª a 4ª séries ( 82,5%), as Técnicas em Biblioteconomia ( 77%), as Cozinheiras ( 72,5%), as Biólogas e afins ( 71%).

Revista - Trabajo:
Revista de La Oit

Nº 6, Dezembro de 1993
Fotógrafo: Jaccques Maillard
(com efeito aplicado sobre a foto)

Naquelas famílias em que, entre 50 e 69% dos empregos são femininos, encontramos profissões tradicionalmente femininas, p.ex., Técnicas em Administração ( 55%), trabalhadoras da preparação da confecção de calçados ( 51%), ao lado de outras que vêm se feminizando celeremente, como Farmacêuticos ( 68%), Técnicos em Turismo ( 62%), Cirurgiões-Dentistas ( 59%). Finalmente, na outra ponta, entre as famílias ocupacionais em que menos de 30% dos empregos são femininos- podendo ser consideradas redutos masculinos- podemos encontrar:- a presença feminina mais disseminada, entre outros, junto aos Artistas de circo ( 29%), os Peritos criminais ( 27%), os Catadores de materiais recicláveis ( 22%), os Engenheiros civis e afins ( 18%) e, - menos visível entre os trabalhadores de apoio à agricultura ( 13,5%), os Técnicos em pecuária ( 11,5%), os Engenheiros mecânicos ( 6%), os Motoristas de ônibus urbanos, metropolitanos e rodoviários ( 1%).

¹ Até 1998, essas atividades encontravam-se agregadas em "prestação de serviços' e "social". Com a adoção da CNAE- Classificação Nacional de Atividades Econômicas, em 2000, o IBGE pôde desagregá-las nas categorias enunciadas. A comparação com anos anteriores ficou impossibilitada em função das mudanças na agregação da categorias, reduzindo a presente série a 10 anos. O ano de 1998 foi estimado a partir das proporções do Censo 2000.

² Segundo a Classificação Brasileira de Ocupações - Domiciliar ( CBO-domiciliar),utilizada pelo IBGE, desde 2000. Esta série histórica remonta a apenas 10 anos devido à adoção dessa nova classificação de ocupações, o que descontinuou a possibilidade de comparação com anos anteriores. O ano de 1998 foi estimado a partir das proporções encontradas no Censo de 2000.