Avaliar programas educacionais: da implementação de políticas públicas aos seus processos e resultados
A avaliação na educação vai além do desempenho de estudantes e inclui a avaliação de programas educacionais, como os de formação docente.
Autor- Luanne Caires,Pesquisas Educacionais em Pauta -18/07/2024 21:15:49
O desempenho de estudantes nas provas é um tema recorrente no debate público sobre avaliações. Mas um bom desempenho estudantil depende de múltiplos fatores, entre eles a formação docente e os modos de implementação das políticas públicas educacionais nas escolas. A Fundação Carlos Chagas (FCC), por meio de seu grupo de pesquisa em Avaliação Educacional, segue atenta à necessidade de se avaliar os programas educacionais de diversas naturezas, para aprimorá-los. O ensino médio e seus novos desafiosMarcada por divergências e pedidos de revogação, a reforma do Ensino Médio, instituída pelaLei nº 13.415/2017, tem sido um processo complexo e heterogêneo. Organizações da sociedade civil se mobilizaram para oferecer aos estados soluções para a implementação do novo currículo e o monitoramento dessa implementação pode contribuir para a compreensão de como os estados se apropriaram dos programas propostos e organizaram seus planos de formação continuada. No projetoMonitoramento da implementação do programa Nosso Ensino Médio, financiado pela Fundação Itaú para Educação e Cultura, a Fundação Carlos Chagas avalia o processo de implementação e desenvolvimento de programa de formação continuada de professores, coordenadores pedagógicos e gestores do ensino médio.O programa, formulado pelo Instituto Iungo em parceria com o Instituto Reúna e a Fundação Itaú para Educação e Cultura, estrutura-se em uma plataforma digital de conteúdos com percursos de formação customizáveis. Fabiana Silva Fernandes, pesquisadora da Fundação Carlos Chagas e coordenadora do estudo, explica que o programa segue a lógica do currículo do Novo Ensino Médio, com uma parte de formação geral básica e outra de itinerários formativos. “Os institutos primeiramente precisavam ter uma análise do contexto dos estados, olhar quais são as especificidades, as necessidades antes de entrarem para o programa. Porque entrar para um programa que já pressupõe uma proposta curricular elaborada é um desafio, se o estado ainda não tem esse currículo”, afirma a pesquisadora. Por meio de um questionário digital, o estudo coletou informações sobre a implementação do programa Nosso Ensino Médio em 23 estados brasileiros, além de aprofundar a análise em quatro deles [Amazonas, Ceará, Rio Grande do Sul e Santa Catarina]. O objetivo era mapear diferentes formas de implementação, os desafios encontrados pelas redes de cada estado, e estruturar um conjunto de experiências que poderiam contribuir para a customização do programa Nosso Ensino Médio a depender das demandas estaduais e a partir de resultados anteriores. Para Nelson Gimenes, pesquisador no grupo Avaliação Educacional da FCC e integrante do estudo, é importante lembrar que cada estado se encontra em um momento da implementação da nova política e que o processo se desenrolou em um período que incluiu a pandemia de covid-19, repleto de desafios por si só. Além disso, há dificuldades inerentes à estrutura atual do ensino médio: “O programa precisaria considerar também as condições de trabalho dos professores. Em que momento o professor vai fazer essa formação se ele dá aula em mais de uma rede, em mais de uma escola, em mais de uma etapa? Claro que estávamos analisando o programa, e não o próprio ensino médio. Mas essa discussão vem junto”, destaca. A avaliação da formação de professores na pós-graduaçãoAs contribuições da Fundação Carlos Chagas para a avaliação de programas vão além da educação básica. No projetoProcesso de Avaliação do Programa Nacional Profissional em Ensino de Física (PROFIS/MNPEF), o foco é o Mestrado Nacional Profissional em Ensino de Física (MNPEF). A iniciativa da Sociedade Brasileira de Física (SBF) se baseia em parcerias com instituições de ensino superior e busca oferecer formação em nível de pós-graduação para professores de Física que atuam na educação básica. Adriana Bauer, pesquisadora da FCC e coordenadora do projeto, explica que o investimento em programas de formação de professores tem crescido no Brasil nos últimos anos na pós-graduação, inclusive com o apoio da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES) a programas de mestrado de natureza profissional. No entanto, também é preciso saber se os programas alcançam os objetivos propostos. “Então fazer esse tipo de avaliação é importante para entender os resultados que a gente obtém quando se dedica a formar melhor o professor, se essa formação é suficiente para respaldar o trabalho dele na sala de aula e melhorar a qualidade do ensino”, complementa. A pesquisa é multidimensional e inclui análises do perfil dos professores cursistas, dos egressos e dos docentes que ministram aula no programa em 57 pólos distribuídos por todas as regiões brasileiras. Também conta com análise das dissertações de mestrado produzidas e do impacto da formação dos professores no desempenho de seus estudantes de Física na educação básica. Avaliar um programa em escala nacional é uma missão que envolve desafios de busca e organização de dados. Isso porque é preciso entrar em contato com uma grande quantidade de pessoas de diferentes regiões, organizar bases de informações extensas e planejar uma logística de comunicação e entrega de materiais a diferentes estados a partir da sede da pesquisa em São Paulo. Ainda assim, Adriana destaca que é um esforço que vale a pena: “O objetivo é sempre que os alunos aprendam, que os professores saibam ensinar melhor, então temos que acompanhar realmente. É política pública mais consequente, ver o que está acontecendo com esse investimento”.Saiba maisAvaliação EducacionalGrupo de pesquisa da Fundação Carlos Chagas que tem como meta prioritária gerar conhecimento no campo da Avaliação Educacional, a partir da produção, sistematização, análise e divulgação de pesquisas, bem como da reflexão teórico-metodológica, de forma a ampliar os referenciais que sustentam propostas de investigação na área.