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Tese premiada pela Capes aborda produção e circulação do livro escolar em braille no Brasil

Reconhecida com menção honrosa na área de Educação, a pesquisa analisou os processos de circulação dos livros especialmente pelo Imperial Instituto dos Meninos Cegos

Autor- Jade Castilho,Pesquisas Educacionais em Pauta -10/01/2025 15:13:46

O uso de livros e materiais escolares em braille permeou a trajetória acadêmica e profissional de Gabriel Bertozzi de Oliveira e Sousa Leão, premiado com menção honrosa em Educação peloPrêmio Capes de Tese 2024

Sua pesquisa intitulada Educar-se em pontos salientes: produção e circulação do livro em braile do Imperial Instituto dos Meninos Cegos, defendida no Programa de Pós-Graduação em Educação da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), analisou os processos de concepção, produção e circulação do livro escolar em braille no Brasil durante a segunda metade do século 19. 

Particularmente, Gabriel analisou o acervo de documentação do Imperial Instituto dos Meninos Cegos, formado por ofícios, cartas, recibos, listas e relatórios recebidos ou elaborados pelos diretores e pessoas relacionadas à instituição.

Fundado em 1854, no Rio de Janeiro, capital do Império, o Instituto foi o primeiro espaço formalizado no Brasil voltado especificamente para a educação de pessoas com deficiência, também pioneiro nas formas de confecção de livros didáticos no Sistema Braille. 

Com oficinas tipográficas e de encadernação, o Instituto fomentou a circulação de livros e outros materiais pedagógicos. Esse cenário possibilitou, pela primeira vez, ações de ensino para cegos com material didático acessível, com práticas de leitura com as obras impressas em pontos salientes.

Braille como elemento democratizador da aprendizagem

Ao longo da pesquisa e da análise das documentações, Gabriel percebeu que as práticas de elaboração do livro no Instituto, organizadas e realizadas pelos próprios cegos, revelavam uma situação de contato intenso entre os alunos e os livros que utilizavam, diferente do que ocorria nas escolas para videntes. 

Na transformação de um livro em tinta para o livro em braille, é preciso se atentar a elementos de adequações para a leitura com o toque e o melhor entendimento dos leitores cegos. Esse processo tradutório-interpretativo, de acordo com o pesquisa, refletia na elaboração de novos sentidos ao texto. 

"Um dos principais pontos do livro em braille que encontrei nas minhas análises é o da autonomia do sujeito, de ler na sua maneira, no seu ritmo, na sua forma de ler um livro. Existe também uma relação com o conteúdo escolar que quando você tem informação em relevo, ela dá outro sentido para a elaboração do significado daquilo que está sendo construído no livro, como as formas geométricas, por exemplo. É uma outra construção de sentido muito mais rica", comenta o pesquisador. 

A quantidade, a diversidade, os discursos e a materialidade dos livros em braille permitiam a elaboração de experiências de leitura diferentes da realizada com o livro impresso em tinta influenciadas, principalmente, pelo uso do tato. Assim, para o autor, novos sentidos relacionados ao livro poderiam ser apropriados pelo leitor. 

"Toda essa dinâmica envolvida com o livro em braille pode influenciar a construção das identidades dos estudantes, distanciando desse estigma da cegueira. Essas práticas que analisei permitiam o desenvolvimento de um sentimento de pertencimento a um grupo que compartilhava não só uma característica física, mas experiências significativas com o livro", relata Gabriel. 

Para o pesquisador, é preciso pensar nos livros físicos em braille como um mecanismo de promoção de acessibilidade e apropriação do conhecimento em tempos de “desbraillização” nas escolas, em que estudantes recebem livros acessíveis digitais. "Os livros em braille auxiliam, assim, na construção de suas identidades. Um livro em braille pode propiciar a leitura, a relação com o livro e a mobilidade do estudante", completa. 

Saiba mais

Prêmio CAPES de Tese

Instituído em 2005, o Prêmio Capes de Teses é concedido anualmente às melhores teses de doutorado defendidas e aprovadas nos cursos de pós-graduação reconhecidos pelo MEC, selecionadas em cada uma das áreas do conhecimento da Capes, considerando os quesitos originalidade e qualidade. Informações e inscrições no site da Capes.

Educar-se em pontos salientes: produção e circulação do livro em braille do Imperial Instituto dos Meninos Cegos

Autor: Gabriel Bertozzi de Oliveira e Sousa Leão

Instituição: Faculdade de Educação da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG)

Orientadora:Ana Maria de Oliveira Galvão

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