Tese que aborda os lugares da negritude em coletivos universitários recebe prêmio da Fundação Carlos Chagas
Estudo destaca relações entre formação em saúde, negritude e desigualdades e é menção honrosa na área de Ensino do Prêmio CAPES de Tese
O incômodo com as profundas desigualdades na área da saúde enfrentadas no Brasil, especialmente pelas populações negras e indígenas, levou a professora e nutricionista Tamiris Pereira Rizzo a desenvolver seu doutorado em Educação em Ciências e Saúde, no Instituto Nutes de Educação em Ciências e Saúde da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).
Seu estudo Tudo que nós têm é nós: lugares da negritude e práticas político-pedagógicas de coletivos negros na universidade, iniciado em 2017, recebeu menção honrosa na área de Ensino pelo Prêmio CAPES de Tese 2022 e recebeu premiação adicional pela Fundação Carlos Chagas, parceira da iniciativa nas áreas de Educação e Ensino.
A pesquisadora se propôs a estudar de que maneira o movimento negro tem se tornado educador coletivo das relações étnico-raciais dentro de uma universidade. “Trabalhei para descobrir quais práticas educativas e quais estratégias político-pedagógicas o movimento negro utiliza, tendo em vista as graduações na área da saúde, bem como se essas práticas e estratégias vêm produzindo outros conhecimentos e saberes que nos ajudem a reorganizar a forma de ofertar ações de cuidado em saúde para a população negra, sob o ponto de vista das relações étnico-raciais”, enfatiza Tamiris.
De acordo com o estudo, essas desigualdades também se refletem em quanto essas populações conseguem acessar e utilizar os serviços de saúde, bem como em quanto esses serviços conseguem devolver à população uma resposta qualificada do ponto de vista do cuidado, considerando sempre as especificidades da realidade social, cultural e identitária desses povos.
De acordo com a pesquisa, esses coletivos e o movimento negro promovem, muitas vezes paralelamente à educação formal, novos conhecimentos, saberes e estratégias a partir de uma perspectiva educativa pautada a partir das relações étnico-raciais no cuidado com a saúde da população negra. “
O movimento oferece novos insights e reivindicações, como as cotas epistêmicas, que complementam as cotas étnico-raciais, o direito de acesso aos saberes dos mestres populares em cuidado em saúde, dos autores negros e negras, para que nossos teóricos estejam dentro da universidade, fomentando novas práticas de ensinar a cuidar da saúde da população negra”, explica a autora da tese.
Desafios enfrentados
Tamiris cita que um grande desafio encontrado durante o processo de pesquisa participativa foi forjar mecanismos de fomento à ciência, de modo que esses possam contribuir para horizontalizar as relações de poder e dar suporte aos grupos que colaboraram no estudo. “Precisamos buscar relações menos hierarquizadas do ponto de vista da voz do pesquisador sobre outras vozes”, constata.
A autora da tese ressalta também que a temática ainda enfrenta muitas resistências, dentro e fora do setor de saúde, inclusive na interface entre as relações étnico-raciais, gênero e sexualidade. “Não é possível compreender a fundo essas desigualdades se não formos capazes de entender o racismo como um componente fundamental na determinação social do processo saúde, doença e cuidado”, reflete a pesquisadora.
Saiba mais
Instituído em 2005, o Prêmio Capes de Teses é concedido anualmente às melhores teses de doutorado defendidas e aprovadas nos cursos de pós-graduação reconhecidos pelo MEC. Desde 2012, a FCC soma esforços com a Capes na valorização de pesquisas em educação, oferecendo um prêmio adicional às teses das áreas de Educação e Ensino, vencedoras nas categorias de Melhor Tese e Menção Honrosa.
Autora da tese: Tamiris Pereira Rizzo
Instituição: Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Programa de Pós-Graduação Educação em Ciências e Saúde
Orientador: Alexandre Brasil