Da sala de aula à pesquisa: estudo sobre clima escolar aproxima universidade e escolas estaduais em São Paulo
Levantamento busca identificar desafios, propor ações e avaliar transformações no ambiente das escolas até 2029
Brenda Teixeira
08/10/2025 14:25:44
O Centro de Ciência para o Desenvolvimento da Educação Básica (CCDEB) realizou, nesta quarta-feira, o seminário de abertura da pesquisa que irá acompanhar, pelos próximos cinco anos, o clima e a convivência escolar em 80 escolas públicas estaduais de São Paulo. A iniciativa é fruto de articulação iniciada em julho de 2024 e é desenvolvida em parceria com a Secretaria da Educação do Estado de São Paulo (Seduc-SP).
O encontro reuniu gestores escolares, pesquisadores e representantes da Secretaria, marcando o início da aplicação do questionário de diagnóstico de clima escolar. Além de apresentar a dimensão do projeto e seus objetivos, o evento promoveu um espaço de troca em que os profissionais da rede puderam levantar dúvidas e fazer considerações sobre o processo.
Na abertura do evento, Danielle Quirino apresentou oPrograma Conviva SP, iniciativa criada pela Seduc em 2019 para apoiar escolas na construção de um ambiente educativo mais acolhedor e seguro. O Conviva articula ações de convivência, segurança, saúde e proteção escolar, oferecendo acompanhamento às equipes gestoras, fomentando um clima positivo de colaboração e incentivando a participação das famílias na vida escolar. O programa também fortalece as redes protetivas no entorno das escolas, integrando serviços de saúde, assistência social, justiça e segurança pública, em parceria com diretores, supervisores e professores orientadores de convivência.
Segundo Danielle, o trabalho conjunto das equipes centrais, regionais e locais permite identificar fatores que afetam o processo educativo e planejar intervenções alinhadas à realidade de cada comunidade, além de atuar para promover uma cultura de paz e garantir que a escola seja um espaço de bem-estar, proteção e aprendizagem para todos.
A convivência como parte da aprendizagem
Marilene Proença Rebello de Souza, diretora do CCDEB e professora do Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo (USP), ressaltou a centralidade da convivência no processo educativo e destacou os parceiros envolvidos no projeto.
“Esse centro é uma iniciativa da Fapesp [Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo] e se constitui como espaço de pesquisa, mas também de desenvolvimento de ações para a melhoria da qualidade da escola, no que tange às aprendizagens e à convivência escolar. Esperamos poder construir propostas para as políticas públicas numa perspectiva de sustentabilidade, transformando o tema da convivência em algo central dentro do processo de escolarização”, afirmou Marilene.
Em seguida, o professor Alonso Bezerra de Carvalho, da Universidade Estadual Paulista (Unesp), destacou o potencial do projeto para aproximar universidade e escola, especialmente diante dos desafios enfrentados por professores em seu cotidiano: “Queremos que esse diálogo seja cada vez mais próximo. Muitas vezes a pesquisa acadêmica não chega ao chão da escola, e os docentes, que lidam com situações complexas diariamente, esperam respostas e apoio. A proposta é construir juntos reflexões e ações para enfrentar questões como bullying, violência, intolerância e preconceito, que têm preocupado famílias e a sociedade”, ressaltou.
O pesquisadorAdriano Moro, da Fundação Carlos Chagas, apresentou o caráter diagnóstico da pesquisa, que servirá de base para ações ao longo do quinquênio. Segundo ele, o levantamento inicial permitirá compreender como professores, estudantes e gestores percebem o ambiente escolar em cada unidade participante.
“Queremos investir na convivência ética e democrática, numa cultura de paz e de valorização das relações humanas. A partir desse diagnóstico inicial, será possível propor ações concretas e acompanhar, ao longo dos cinco anos, em que medida elas têm se mostrado efetivas. Em 2029, faremos um novo diagnóstico para avaliar as transformações”, explicou.
Representando a Seduc-SP, a coordenadora de Programas e Parcerias, Ana Rafaella Drumond, destacou a importância da cooperação com universidades e instituições de pesquisa para o fortalecimento das políticas públicas.
“É muito difícil o Estado fazer políticas públicas sozinho. Contamos com essas parcerias para aprimorar nossas ações, ter diagnósticos mais precisos e oferecer formações qualificadas. Essa troca entre a academia e a Secretaria é fundamental: enquanto os pesquisadores trazem expertise teórica, nós trazemos a percepção prática do dia a dia escolar. Juntos, conseguimos oferecer serviços de mais qualidade à comunidade”, afirmou.
Ana Rafaella também ressaltou que o trabalho com o Programa Conviva amplia o alcance das ações voltadas para proteção escolar, saúde mental e cultura de paz, fortalecendo a rede de apoio a estudantes e profissionais da educação.
Escuta das escolas e próximos passos
Além das falas dos coordenadores e representantes da Seduc, o seminário abriu espaço para a participação dos gestores escolares, que puderam esclarecer dúvidas e fazer sugestões sobre o questionário de clima escolar e as etapas da pesquisa.
Segundo os organizadores, um dos grandes objetivos é construir, ao fim dos cinco anos, um panorama representativo da diversidade das escolas paulistas, aproximando diagnósticos da realidade cotidiana das comunidades escolares.
Com o início da coleta de dados, as 80 escolas selecionadas passam a compor o núcleo de acompanhamento do CCDEB, que reunirá informações e práticas capazes de orientar políticas públicas e subsidiar ações voltadas ao fortalecimento do clima e da convivência escolar.
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