Pesquisa discute urgência de mudanças nas metodologias de levantamento de dados e análises da população negra no mercado de trabalho
Levantamento publicado pelo Geledés - Instituto da Mulher Negra reivindica promoção de políticas públicas que promovam um trabalho digno para a população negra
Jade Castilho
26/11/2025 17:42:18
Como podemos entender o trabalho digno no Brasil? O que significa o trabalho digno atualmente, especialmente pensando na população negra? Essa foi a pergunta que orientou o projeto de pesquisa População negra e trabalho digno: Avanços e continuidades no mercado de trabalho brasileiro, tema de relatório publicado pelo Geledés - Instituto da Mulher Negra e realizado pela pesquisadora Adriana Tolentino Sousa, do Departamento de Pesquisas Educacionais da Fundação Carlos Chagas.
Partindo da noção de que o trabalho digno significa, concretamente, postos de trabalho com proteção das garantias trabalhistas, e previdenciárias, assim como rendimentos condizentes com a função desempenhada em contextos que garantam subjetividade saudável, o estudo analisou como, nos últimos cinco anos, as principais pesquisas e relatórios sobre mercado de trabalho têm destacado a presença da população negra.
Além disso, também se propôs à reflexão sobre o acesso dessa parcela da sociedade ao trabalho digno na atualidade do mercado brasileiro. Entre as recomendações indicadas pelo relatório está a urgência de mudanças nas metodologias de levantamento de dados e análises da população negra no mercado profissional.
O trabalho de pesquisa iniciou-se com entrevistas com sete profissionais autodeclarados negros donos ou sócios-majoritários de empresas em pleno funcionamento no mercado de trabalho brasileiro.
As entrevistas abordaram aspectos da formação e grau de escolaridade do entrevistado, a localidade e tipo de negócio de sua atuação; qual a motivação para abrir negócio próprio, os desafios e oportunidades do mercado de trabalho e, por último, as perspectivas de cada entrevistado sobre as estratégias de manutenção dos seus negócios.
A pesquisa dedicou-se à revisitar outros levantamentos e relatórios já existentes sobre a temática, relatar os principais dados sobre população negra no mercado de trabalho capturados pelas pesquisas realizadas no período de 2018 a 2022, mapear análises mais recorrentes e menos recorrentes sobre postos de trabalho acessados pela população negra e refletir sobre as narrativas da inserção de mulheres negras no mercado de trabalho.
Ao longo dos capítulos, o levantamento detalha imagens recorrentes da população negra no campo profissional, o cenário de desigualdades salariais de pessoas negras em relação ao salário de pessoas brancas e o empreendedorismo negro, relacionado à tradição de redes de solidariedade para movimentação da economia entre a população negra e, as estratégias da população negra para driblar os efeitos do racismo entranhado nas estruturas do trabalho no Brasil.
Por fim, o relatório reflete a necessidade de pesquisas que evitem corroborar com narrativas de invisibilidade da presença da população negra em possíveis de trabalho com altos salários e visibilidade social, uma vez que a produção de dados diversificados pode abrir novas possibilidades de compreensão das nuances da questão racial e sua interferência na mobilidade social de pessoas negras, além de possibilitar a criação de políticas públicas
mais efetivas.
Entre as recomendações abordadas no estudo estão:
Políticas Públicas de revisão, atualização e fiscalização das regras de vínculos
independentes, baseadas nas experiências de profissionais negros;
Incentivo à criação de planos e ações pautadas em estratégias de enfrentamento às desigualdades raciais que permitam às pessoas negras empreendedora conhecerem em profundidade as estruturas e as subjetivas do mercado que desejam se inserir;
Políticas públicas de acesso aos postos de trabalho ligados às áreas liberais ainda no processo de transição da formação para o mercado;
Fomento e ampliação de políticas públicas que visem a inserção de profissionais negras em vagas do serviço público, cargos e funções que historicamente há baixa incidência de mulheres negras;
Mudanças nas metodologias de produção de dados que possibilitem produzir pesquisas com cotas amostrais que deem mais segurança na informação racial da pesquisa, de modo a possibilitar que trabalho qualitativo revele mecanismos de discriminação.
Saiba mais
Ebook População negra e trabalho digno: avanços e continuidades no mercado de trabalho brasileiro