Impactos da pandemia de covid-19 na educação em São Paulo
A covid-19 demandou urgentes mudanças nos processos de ensino. Investigar os impactos dessas mudanças na atividade docente e as percepções de seus educadores a respeito das possíveis influências sobre a aprendizagem, é ponto fundamental para compreender melhor esse momento histórico e embasar presentes e futuras ações educativas. Para tanto, a rede paulista foi utilizada como modelo neste estudo.
Cerca de 48 milhões de estudantes tiveram que deixar de frequentar as atividades presenciais nas 180 mil escolas de ensino básico no Brasil a partir de março de 2020, com a pandemia de covid-19. Assim, a maior rede educacional do país, a rede estadual de São Paulo, teve que, rapidamente, adotar estratégias de ensino mediado por tecnologia. As mudanças trazidas por esse modelo impactaram educadores, estudantes, famílias e os processos de ensino e aprendizagem. Para compreender melhor esse momento histórico e subsidiar futuras ações e políticas públicas, a pesquisa “Educação, docência e a covid-19”, apresentada no artigo Docência e covid-19: percepções de educadores da rede paulista de ensino, ouviu cerca de 19 mil educadores, permitindo a construção de um amplo quadro sobre como esses profissionais e suas atividades foram afetadas, considerando indicadores afetivos, de saúde mental e pedagógicos.
A pesquisa foi realizada por meio de um questionário on-line composto por questões abertas e fechadas e revelou que cerca de 85% dos educadores têm a percepção de que os estudantes aprendem menos ou muito menos via educação mediada por tecnologia. O resultado pode ser considerado pouco intuitivo e merece atenção dos gestores públicos. Essa percepção sobre a aprendizagem não é reflexo, por exemplo, de diferenças de idade ou etapa de ensino entre os respondentes. Também é importante destacar que tal olhar pode não estar unicamente associado a questões relativas ao processo de ensino e aprendizagem em si. A desigualdade de acesso às aulas, o desinteresse dos estudantes, as dificuldades relacionadas à tecnologia e a insegurança sobre as mudanças são apenas alguns fatores que podem afetar na percepção de aprendizagem. O estudo Perda de aprendizagem na pandemia, realizado por Barros e colaboradores, estima que, no ensino remoto durante a pandemia, os estudantes aprenderam, em média, apenas 17% do conteúdo de matemática e 38% do de língua portuguesa, comprovando a percepção dos educadores.
Vale destacar, ainda, que cerca de 80% dos educadores consideram que sua atuação como docente vai melhorar no pós-pandemia e que 68% consideram que essa melhora também ocorrerá na educação em sentido mais amplo, trazendo à tona um olhar otimista relacionado às lições aprendidas no processo.
Referências
Barros, R. P., Machado, L. M., Franco, S., Zanon, D., & Rocha, G. (2021). Perda de aprendizagem na pandemia. Instituto Unibanco.
Leia o artigo em:
https://publicacoes.fcc.org.br/eae/article/view/9351
Saiba mais:
Pesquisador da USP diz que professores têm grande vontade de se adaptar às mudanças (G1)
Educação e pandemia: desafios e perspectivas (Jornal da USP)
Os argumentos presentes neste post são de responsabilidade dos autores e não necessariamente expressam as opiniões da Fundação Carlos Chagas.
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