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Formação docente na região amazônica trabalha etnoquímica e empoderamento de culturas indígenas

Respeito à língua e aos conhecimentos tradicionais dos povos indígenas é um dos focos da experiência formativa contemplada no Prêmio Professor Rubens Murillo Marques

06/06/22 | Por Graciele Almeida de Oliveira

Logomarca do Prêmio Professor Rubens Murillo Marques 2022. Formação docente promove empoderamento da cultura indígena. Projeto de herbário intercultural reúne mais de nove etnias da região amazônica.

“É a minha química”. Assim é descrita a experiência formativa por aqueles que leram, em sua própria língua nativa, o resumo presente nos Textos FCC sobre o projeto Herbário intercultural: material didático na formação do educador indígena na Amazônia, conforme conta o professor Agerdânio Andrade de Souza, da Universidade Federal do Amapá (Oiapoque). Agerdânio é docente no curso de Licenciatura Intercultural Indígena da UNIFAP e, junto com os professores Maria Adriana Leite e João Marcos Ferreira, coordenou  o projeto que foi um dos vencedores da última edição do Prêmio Professor Rubens Murillo Marques, organizado pela Fundação Carlos Chagas. 

Os resumos presentes no texto foram escritos em três diferentes línguas indígenas, Kheoul, Tiriyo e Apalai, além do português. A publicação foi recebida com alegria pelos estudantes e Agerdânio destaca o comentário de um deles: “Professor, é a primeira vez que eu estou vendo algo que eu fiz com o meu conhecimento e com a minha tradução”.

De acordo com o docente, o Prêmio mudou muitos aspectos no curso, que teve um aumento de procura e é, atualmente, o mais concorrido da universidade. Em uma região em que a quantidade de professores na área de química ainda é pequena, o “Prêmio possibilitou a força e o empoderamento para que os interessados queiram ir para essa área”, comemora Agerdânio. 

O curso de Licenciatura Intercultural Indigena forma estudantes de diferentes etnias e busca contextualizar o ensino de química e de ciências a partir dos conhecimentos próprios dos povos indígenas estabelecidos na Amazônia. “O herbário não nasceu de mim, não nasceu de uma matriz, nasceu das necessidades deles”, explica o professor.

As mudanças não ficaram restritas ao curso. O docente observou também um aumento de editais nesta temática para a região, e cita o exemplo de edital criado no Campus Binacional de Oiapoque para incentivar novos projetos.

O desenvolvimento da experiência formativa contemplada pelo Prêmio possibilitou que os discentes indígenas vissem sua cultura e línguas incluídas no processo de ensino e contou com mais de nove etnias, de diferentes aldeias, trocando conhecimentos dentro de uma sala de aula na construção de um herbário intercultural. Nesse processo, Agerdânio explica que foi usada a taxonomia indígena, em que o nome das plantas nas diferentes línguas e seus usos foram detalhados no material didático. “O herbário tinha que ser móvel, porque a gente tem alunos que andam por 28 dias para chegar à universidade. Então, qualquer prática que for criada dentro da universidade, a gente tem que pensar nessa ida até a aldeia”, complementa. 

O docente destaca ainda que as atividades desenvolvidas no projeto contribuem para formar professores de química tradicional, também chamada de etnoquímica: “Nas aldeias, eles se sentiram professores, professores de fato, efetivos. E professores não dos ensinos ocidentais, não dos livros. Professores do seu conhecimento. Professores de química tradicional. É legal que eles estão usando que eles não fazem mais química, eles fazem química tradicional. Etnoquímica, eles estão fazendo”.

Nesse sentido, os processos químicos são entendidos por meio da visão dos povos tradicionais, em que a ligação dos povos indígenas com a natureza é levada em conta para entender a relação deles com as substâncias. Na etnoquímica, “essas explicações são usadas não para sobrepor o conhecimento ocidental e o tradicional, mas para que os dois consigam trabalhar juntos”, explica o docente. 

De acordo com o educador, inscrever-se no Prêmio Professor Rubens Murillo Marques foi uma oportunidade para dividir experiências que podem propiciar a mudança de uma realidade, de um espaço. “Eu acho que a educação consegue mudar vidas, mas para que ela mude a vida, a gente deve contar, deve aprender e deve ensinar aos outros o que a gente sabe”, finaliza Agerdânio. 

Saiba mais
Herbário Intercultural: material didático na formação do educador indígena na Amazônia
Acesse a série Textos FCC e veja o detalhamento do projeto desenvolvido pelos professores Agerdânio Andrade de Souza, Maria Adriana Leite e João Marcos Gomes de Oliveira Ferreira na Universidade Federal do Amapá.
https://publicacoes.fcc.org.br/textosfcc/article/view/9169

Prêmio Professor Rubens Murillo Marques
As inscrições para a 12ª edição do Prêmio estão abertas até 13 de junho. Acesse o edital e os projetos contemplados ao longo da história da premiação.
https://www.fcc.org.br/fcc/premios/premio-professor-rubens-murillo-marques

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