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Tese sobre fazer pesquisa com povo indígena tikmũ’ũn discute múltiplos saberes ancestrais

Com menção honrosa pelo Prêmio Capes de Tese, pesquisa propôs metodologias a partir de uma experiência coletiva em rede sobre o fazer escola

19/04/24 | Por Jade Castilho, assessoria de comunicação da Fundação Carlos Chagas, comunicacao@fcc.org.br

Composição de fundo verde, azul e creme, com uma linha ondulada vermelha. Sobre o fundo, há o texto: Prêmio Capes de Tese 2023. Xi hõnhã? e agora? vamos ser pesquisadores: um fazer pesquisa tikmũ’ũn entre múltiplos seres, saberes e fazeres. Paula Cristina Pereira Silva - Menção honrosa em Educação. A logo da Fundação Carlos Chagas aparece em uma barra inferior branca.

Pesquisar em cor-relações com a união de mente, corpo, emoção e espírito foi a proposta de Paula Cristina Pereira Silva, do Programa de Pós-Graduação em Educação da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), em sua pesquisa de doutorado, reconhecida com menção honrosa pelo Prêmio Capes de Tese 2023

A tese foi resultado de uma experiência concreta de fazer pesquisa com os Tikmũ’ũn, também conhecidos como Maxakali, sobre seus múltiplos seres, saberes e fazeres com o objetivo de compreender um modo tikmũ’ũn de fazer pesquisa e escola.

Intitulada Xi hõnhã? e agora? vamos ser pesquisadores: um fazer pesquisa tikmũ’ũn entre múltiplos seres, saberes e fazeres, a pesquisa surgiu do interesse e da vivência anterior de Paula com os Maxakali, mas a partir de um olhar coletivo e com a participação de diversos seres, humanos e também não humanos, que vivem no território indígena de Água Boa, no município de Santa Helena de Minas (MG). 

“Muito do que eu tinha aprendido na universidade não funcionava nos trabalhos que desenvolvia com os Tikmũ’ũn. Eu passei por esse processo formativo de aprender a ser pesquisadora com esse povo. Isso foi determinante para eles terem a liberdade e a confiança de me permitirem entrar na aldeia. Foi exatamente o que me ajudou a ter sensibilidade de escuta e de visão para podermos seguir um caminho inusitado e desconhecido juntos”, afirma a autora da tese. 

Paula e os pesquisadores da comunidade indígena formaram uma rede conjunta chamada Hãm Yĩkopit (Perguntar à Terra), que compartilhou pesquisas de diferentes temáticas com encontros na aldeia para troca de saberes e referências. 

Uma escrita coletiva

Com a pesquisa de doutorado em processo de finalização durante o período da pandemia de covid-19, a pesquisadora, que de início havia programado um trabalho coletivo também na escrita da tese, mudou seus planos. No entanto, Paula ainda manteve os registros escritos dos encontros da Rede e dos relatos de pesquisadores da aldeia de forma íntegra em seu trabalho: 

“Não é uma citação, mas sim a parte íntegra do texto, é a voz deles, eles também são autores. Foi um desafio romper com exigências de organização do texto acadêmico que não faziam sentido para a pesquisa desenvolvida. Muitos são os desafios a serem superados, mas acredito que a tese mostra a potência pedagógica e política de uma outra forma de se fazer pesquisa, de se aprender fazendo juntos. A pesquisa se constituiu realmente como uma ferramenta de luta por uma justiça cognitiva e social. A todo momento, a gente luta pelo reconhecimento desse sistema de conhecimento e pelo reconhecimento da terra deles, da floresta”. 

A criação da rede de pesquisa fortaleceu e deu visibilidade para o saber e a escola tikmũ’ũn, o que evidencia a potência pedagógica e política da iniciativa. Nessa perspectiva, a criação e a existência da Rede Hãm Yĩkopit se alinhou à prática de pesquisa politicamente posicionada e à luta histórica pela justiça social e pelo direito à floresta dos povos originários.  

“É essa relação com outros seres para além dos humanos, a necessidade de se incluir a questão da intuição, dos sonhos, do canto, do estabelecimento de cor-relações, de ações de cuidado, pesquisar estabelecendo cor-relações, com o coração mesmo, com a mente, o corpo, a emoção e o espírito”, completa Paula. 

Reconhecimento 

A pesquisadora relata as dificuldades e desafios ao longo da trajetória de produção da tese, diante da sua proposta inovadora em comparação ao saber tradicional da academia:

“Ouvi muitas vezes dizerem que o que eu fazia não era ciência, pois se fundamentava em uma epistemologia indígena, então o doutorado foi um processo que demandou muita coragem. A premiação pela Capes, a menção honrosa foi aquela última carta de legitimação que a gente precisava para o que fizemos e produzimos juntos, e isso é politicamente muito representativo pois as epistemologias indígenas por séculos foram preteridas. Além de ser essencial para o reconhecimento da diversidade epistêmica do Brasil”, finaliza. 

Além da menção honrosa recebida como resultado do trabalho de pesquisa de Paula, diversos membros da Rede foram aprovados no vestibular da UFMG e passaram por processos de certificação escolar. A Rede também produziu um livro, Tuhut Tikmũ’ũn Hãm Yĩkopit, com versão impressa e digital, nos anos de pesquisa em meio a pandemia. Parte da tese foi publicada pela Editora Selo FaE (UFMG) em formato e-book, disponível para download gratuito. 

Saiba mais
Prêmio CAPES de Tese 2023
Instituído em 2005, o Prêmio Capes de Teses é concedido anualmente às melhores teses de doutorado defendidas e aprovadas nos cursos de pós-graduação reconhecidos pelo MEC, selecionadas em cada uma das áreas do conhecimento da Capes, considerando os quesitos originalidade e qualidade. Informações e inscrições no site da Capes.

Xi hõnhã? e agora? vamos ser pesquisadores: um fazer pesquisa tikmũ’ũn entre múltiplos seres, saberes e fazeres
Autora da tese: Paula Cristina Pereira Silva
Instituição: Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Programa de Pós-Graduação em Educação
Orientadora: Vanessa Sena Tomaz

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