A Educação STEM para além de fronteiras
|22/06/23
O tema foi discutido durante o Bett 2023 e contou com a presença da Fundação Carlos Chagas e British Council
Por Graciele Oliveira
No dia 11/05 aconteceu a mesa Panorama da Educação STEM no Brasil: trocas com Colômbia e Reino Unido sobre uso de dados para políticas públicas que teve a mediação de Ana Paula Gaspar, especialista em Tecnologias Educacionais, e as participações de Sandra Unbehaum, do Departamento de Pesquisas Educacionais da Fundação Carlos Chagas, Alessandra Moura e Julia Rubiano de La Cruz, ambas do British Council.
A mesa foi um espaço para se discutir a importância de um sistema de educação baseado em evidências e construído por meio de estratégias voltadas à educação STEM (Ciência, Tecnologia, Engenharia e Matemática) como forma de contribuir para a cidadania. Durante o evento, Alessandra, que é Gerente Sênior de Língua Inglesa e Educação Básica no British Council, apresentou algumas das ações da instituição e lembrou da importância do engajamento dos estudantes como forma de promover o interesse deles nessas áreas.
Entender o cenário do ensino de ciências no Brasil também é essencial nesse processo e contribui para a formulação de políticas públicas. Nesse contexto foi publicado o relatório O Ensino de Ciências da Natureza e suas Tecnologias na Educação Básica Brasileira – Um Panorama entre os anos de 2010 e 2020, uma iniciativa do British Council em parceria com a Fundação Carlos Chagas “que levou cerca de dois anos até a publicação da pesquisa inédita”, recordou Alessandra.
A pesquisa, coordenada por Sandra, reúne os principais marcos legais brasileiros sobre o ensino de ciências, os resultados sobre as pesquisas publicadas sobre o tema e traz um retrato da última década do ensino de ciências na educação básica a partir dos censos da Educação Básica e da Educação Superior e traz contribuições para as discussões acerca da educação STEM.
Durante a mesa, a pesquisadora apresentou alguns achados do estudo e chamou atenção para o fato de que o “desenvolvimento científico, tecnológico, econômico e, consequentemente, o desenvolvimento social não pode prescindir do conhecimento escolar e do letramento científico” e lembrou de duas pesquisas relacionadas ao letramento científico, a do Instituto Abramundo que revelou que 48% dos entrevistados, entre 15 e 40 anos, tinham o nível rudimentar de Letramento Científico e a do Ministério da Educação/Saeb que mostrou que mais de 51% dos estudantes do último ano do ensino fundamental se encontravam em níveis mais elementares referentes ao letramento científico.
Sandra enfatizou a importância de uma outra iniciativa do British Council em parceria com a FCC, o Garotas STEM, em que meninas e jovens das escolas do ensino básico foram incentivadas a conhecer, participar e são formadas em carreiras em áreas científicas e tecnológicas. O edital selecionou 30 projetos em todo o Brasil.
A ampliação do acesso à uma educação STEM também foi assunto no evento, uma vez que o conhecimento científico não chega a todas as pessoas de forma igualitária. Grupos específicos, que também estão sub representados em algumas áreas profissionais, são os mesmos em que a Educação STEM é focada. “Há também a necessidade de se pensar as questões de gênero nessas áreas”, destacou Sandra. A pesquisadora também lembrou que essa não é uma questão restrita ao Brasil, mas também está presente em diversos países e acrescentou “Nós mulheres somos mais da metade da população mundial e nós não estamos ocupando áreas importantes e contribuindo para o desenvolvimento social, econômico e científico dos países. Se fizermos um recorte social e etnico, esses indicadores seriam ainda mais assustadores”.
A importância da educação STEM ultrapassa fronteiras e o evento foi uma oportunidade para compartilhamento dessas experiências também na Colômbia. Julia é Gerente Sênior de Educação Básica do British Council na Colômbia e falou sobre o programa Coding for Kids (Programación para niños y niñas), uma parceria entre o Ministerio de Educación Nacional, Ministerio de Tecnologías de la Información y las Comunicaciones (Colômbia) e o British Council.
Esse programa foi pensado a partir da pesquisa do contexto colombiano e a demanda na área de STEM. De acordo com Julia, no processo, houve a necessidade de entender como o ensino de ciências e tecnologia estava acontecendo nas salas de aula e como as universidades poderiam contribuir em seu desenvolvimento. Também foi levada em consideração a equidade de gênero na proposta. Na Colômbia, apenas 30% dos cientistas são mulheres, porcentagem reduzida frente a população do país. Outro dado importante levado em consideração no Coding for Kids foi a demanda do país por profissionais qualificados nas áreas STEM. “Estima-se que haja no país 35 mil postos de trabalho abertos para estes profissionais qualificados nessa área”, afirmou Julia.
Ela finalizou explicando a necessidade de avaliar para aprender e que o desenvolvimento do programa vem sendo monitorado e avaliado para que sejam tomadas decisões para a melhoria da proposta.
Saiba mais
Panorama da Educação STEM no Brasil
O estudo, uma parceria entre a Fundação Carlos Chagas, British Council e King’s College London, está disponível no relatório Ensino de ciências e suas tecnologias no Brasil: análise de 2010 a 2020