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Escola como espaço seguro: investir em convivência escolar para formação de uma sociedade mais pacífica

 

Fotografia desfocada de um grupo de estudantes em pé, lado a lado, em uma sala escolar. Sobre a foto, está a frase: “Escola como espaço seguro. O investimento em convivência escolar para formação de uma sociedade mais pacífica”. O logo da Fundação Carlos Chagas aparece abaixo da imagem, em uma barra inferior branca.

|15/03/24

O diálogo nas relações e a construção conjunta de acordos, com apoio da gestão, podem ser fundamentais para o ensino e as aprendizagens dos estudantes

Por Jade Castilho

O direito universal à educação, também presente no artigo 205 da Constituição Cidadã de 1988, garante o acesso de todas e todos ao ensino e à formação, com o objetivo de pleno desenvolvimento do sujeito, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o mercado de trabalho. Assim, é dever do poder público, em apoio com a sociedade, oferecer as condições necessárias para o acesso e a permanência dos estudantes. 

Considerando que a maior parte da educação básica se desenvolve no ambiente escolar, como reconhecer e valorizar essa instituição que é, ao mesmo tempo, espaço de convivência, formação e gestão? Como melhorar o clima da escola e torná-la um local seguro, justo, de liberdade e diálogo?

O Manual de orientação para a aplicação dos questionários que avaliam o clima escolar oferece, de forma gratuita,  instrumentos de medida para o diagnóstico do clima escolar e, a partir do compartilhamento e reflexões da comunidade educativa acerca de seus resultados, permite avançar, também, na melhoria da convivência nas escolas brasileiras. A produção do documento foi coordenada pelos pesquisadores Adriano Moro, do Departamento de Pesquisas Educacionais da Fundação Carlos Chagas, Telma Vinha, da Faculdade de Educação da Universidade Estadual de Campinas (FE-Unicamp), e Alessandra de Morais, da Universidade Estadual Paulista (Unesp).

Os questionários desenvolvidos pela equipe estão disponíveis no site da FE-Unicamp e podem ser usados pela equipe gestora e docente das escolas. Com eles, são avaliadas oito dimensões que constituem o clima escolar: 

  • relações com o ensino e com a aprendizagem;
  • relações sociais e os conflitos na escola;
  • regras, sanções e segurança na escola;
  • situações de intimidação entre alunos;
  • família, escola e comunidade;
  • infraestrutura e a rede física da escola; 
  • relações com o trabalho; 
  • gestão e participação. 

Por meio da aplicação desses questionários, a comunidade escolar pode avaliar, em conjunto, seu clima e planejar ações para a melhora da convivência. 

“A gente sempre pontua que são dois conceitos complexos. O diagnóstico do clima e da convivência, são estudos relativamente novos no Brasil. O clima nada mais é do que a busca pelo bem-estar das pessoas que convivem na escola, ou seja, um conjunto de percepções sobre as várias dimensões da escola com foco no bem-estar. A convivência também olha para o bem-estar, mas tem uma perspectiva de uma ação mais direta e institucional por parte da gestão, docentes e funcionários, envolvendo o planejamento das relações e interações na escola”, afirma Adriano. 

Tais ações são efetivadas pela própria escola e adaptadas para a sua realidade, baseado nas suas relações e interações com foco na formação cidadã dos estudantes. “É preciso olhar para o currículo da escola e ter a possibilidade de trazer esses temas [convivência ou clima] como objetos de conhecimento. Outro aspecto importante é que haja uma ação colaborativa e institucionalizada pela unidade escolar, de envolver todo mundo. Todos precisam ser ouvidos e participar”, completa o pesquisador. 

Por uma gestão escolar democrática

Uma escola com um clima positivo e uma boa convivência é resultado da escuta ativa e do diálogo entre os membros da comunidade escolar, inclusive de sua gestão. A administração de uma escola envolve uma série de atividades diárias que, juntas, ajudam a garantir um processo de ensino e aprendizagem com excelência para os estudantes, além de poder oferecer uma estrutura adequada e um projeto pedagógico que possa desenvolvê-los de maneira saudável. 

De acordo com Cláudia Pimenta, pesquisadora do Departamento de Pesquisas Educacionais da FCC, os papéis da direção, coordenação e orientação pedagógica passaram por transformações ao longo dos anos. 

“Uma gestão que faz com que o fluxo de trabalho de fato aconteça é uma gestão que se propõe a ouvir. Precisa ouvir os professores, os estudantes, ouvir os pais, os próprios gestores, e tentar, de alguma maneira, construir e planejar, criar momentos de planejamento substanciais, não somente protocolares. É preciso que se crie no ambiente pedagógico projetos que coloquem em diálogo  as diferentes disciplinas, que sejam interdisciplinares, transdisciplinares, porque isso envolve e faz sentido para o estudante”, ressalta. 

Um exemplo prático é o estabelecimento de um contrato pedagógico. O documento, elaborado de forma conjunta pelos membros da comunidade escolar, lista deveres e direitos de todos os membros da comunidade escolar, como estudantes, professores, gestores, famílias e funcionários não docentes. Assim, com o contrato firmado, todos e todas têm clareza de seus compromissos para o estabelecimento de um clima escolar positivo e um acordo para convivência. 

“A mediação coloca em conversa aquilo que o estudante traz de conhecimento e o conhecimento teórico-científico, historicamente construído. Uma gestão que consegue ouvir, para poder tomar as decisões em conjunto, de forma coletiva, é muito importante”, completa Cláudia. 

As violências presentes na sociedade também podem adentrar a porta da escola, por isso é fundamental o investimento na convivência escolar para um ambiente pacífico, e o trabalho e empenho para que dali possam sair cidadãos livres, de senso crítico, capazes de entender e respeitar as diversidades. 

Saiba mais
Manual de orientação para a aplicação dos questionários que avaliam o clima escolar, por Telma Vinha, Alessandra de Morais e Adriano Moro (2021).

A escola de todas as cores: o papel do gestor escolar no combate ao racismo, por Helena de Lima Marinho Rodrigues Araújo e Aline Cristina Clemente Braga (2019).

Gestão escolar: desafios na mediação das relações de convivência, por Cristiane Machado e Angela Maria Martins (2017).

O coordenador pedagógico e a formação de professores: intenções, tensões e contradições, por Fundação Carlos Chagas e Fundação Victor Civita (2011).

Pesquisa em eficácia escolar: origem e trajetória, por Nigel Brooke e José Francisco Soares (2008).