Nova Escola: Parece mentira: só tivemos uma mulher à frente do MEC
Nova Escola: Parece mentira: só tivemos uma mulher à frente do MEC
Paula Peres, Soraia Yoshida, Laís Semis
13/01/2025 19:50:10
Está crescendo? Não, caiu: eram 39% um ano antes e 39,5% há cinco anos. “Se existisse meritocracia, nós teríamos uma distribuição igualitária entre homens e mulheres nos cargos de direção", afirma Joana Chagas, gerente de programas da ONU Mulheres, braço na Organização das Nações Unidas que promove igualdade de oportunidades para as mulheres.
"Se vivêssemos em uma sociedade igualitária, teríamos muito mais mulheres CEOs de empresas e cientistas, por exemplo”. Dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) 2016 mostram que, enquanto 15,6% dos homens entre 25 e 44 anos estavam formados em 2015, o índice entre as mulheres era de 21,5%. Ou seja: há mais mulheres formadas, mas por alguma razão elas não sobem tanto na carreira quanto os homens.
“Existe uma barreira invisível que impede as mulheres de chegarem ao topo”, considera a pedagoga Olga Freitas, doutoranda pela Universidade Nacional de La Plata, na Argentina. Essa relação foi tema do estudo de Olga, “A feminização da Educação e a ocupação dos espaços de poder pela mulher: tetos de vidro e as contradições na gestão escolar”, que analisa dados de gestores da rede pública do Distrito Federal nas eleições de 2016.
Na rede, todos os diretores e vices são eleitos pela comunidade escolar. Como não há o privilégio da indicação política, o formato permite liberdade de escolha e tem como eleitores, em sua maioria, mulheres.


Nas entrevistas realizadas com os eleitores, critérios como honestidade, capacidade de diálogo e administração dos recursos financeiros e humanos foram levantados. Todos os pesquisados afirmaram que a escolha não estava relacionada ao sexo.
Apesar disso, eles apontavam como diferença entre gestores homens e mulheres que os primeiros eram mais duros, racionais e inflexíveis, enquanto as mulheres eram mais afetivas, abertas ao diálogo e flexíveis. “As respostas são politicamente corretas. É unanimidade nos discursos que elas são tão capazes quanto os homens, mas o resultado das urnas contraria os discursos”, diz Olga na pesquisa.
O estudo revela que na Educação Infantil, 86% das equipes gestoras eleitas são formadas por mulheres. Não há chapas eleitas masculinas, mas em 14% das escolas, a gestão é formada por um homem na direção e uma mulher como vice. De acordo com a pesquisadora, há uma aceitação natural da gestão feminina nas escolas de crianças pequenas, mas com ressalvas. “Mesmo na Educação Infantil, em que a parcela de homens é muito baixa, quando há um homem na equipe, é ele quem gere a escola”, afirma.
Como é possível imaginar, os números vão ficando inversamente proporcionais à medida que os alunos crescem. Nos anos iniciais do Ensino Fundamental, as chapas exclusivamente femininas passam a ser 78%; nos finais se reduzem a 57% e no Ensino Médio zeram. Nesta etapa, a maioria das chapas (45%) é formada por diretores homens e vices mulheres, enquanto o inverso (diretoras mulheres e vices homens) soma 33% e as chapas exclusivamente masculinas são 22%.
Em um segundo momento, Olga Freitas questiona por que as mulheres não se candidatavam ou não ganhavam nessas etapas. “A fala é de que é preciso pulso firme porque os adolescentes são mais difíceis e é preciso alguém para impor a moral”, explica. Outro fator era o desafio de conciliar as demandas de gestão da escola à jornada doméstica-familiar.
“Ceder esse lugar para o homem tem a ver com saber o quanto é difícil ter disponibilidade de tempo para vivenciar esses espaços. Mas é também uma forma que ajuda a reproduzir o sexismo”, analisa Sandra Unbehaum, pesquisadora da Fundação Carlos Chagas (FCC), uma das autoras dos estudos"O Gênero nas Políticas Públicas no Brasil"e"Tesauro para Estudo de Gênero e Sobre Mulheres".

Fonte:Revista Nova Escola