Aproximadamente 52% dos estudantes brasileiros concluíram o ensino fundamental com trajetória regular, segundo estudo
Pesquisa descreve as trajetórias escolares de estudantes no ensino fundamental e médio, mostrando como se distinguem entre os municípios brasileiros e grupos sociais
Em média, 52% dos estudantes concluíram o ensino fundamental com trajetória regular e 41%, o ensino médio. Esses dados foram divulgados em um estudo publicado na revista Estudos em Avaliação Educacional, voltado à análise da qualidade da permanência escolar no Brasil. O estudo foi conduzido por pesquisadores da UFMG e da Fundação Itaú que vêm se dedicando ao estudo das desigualdades educacionais há várias décadas.
O debate sobre a qualidade da educação básica brasileira tem se baseado principalmente nos dados de desempenho dos estudantes nos testes do Sistema de Avaliação da Educação Básica (Saeb). No entanto, para que o aprendizado ocorra, é essencial que os estudantes frequentem uma escola regularmente.
A pesquisa descreve as trajetórias escolares de cinco coortes de estudantes nascidos entre 2000 e 2005 e acompanhados – por meio do painel longitudinal do Censo Escolar – entre 2007 e 2021. Os coortes se referem a um grupo de pessoas que compartilham uma característica em comum, como a mesma data de nascimento, o mesmo local de residência, ou a exposição a um determinado fator, e que são acompanhadas ao longo do tempo em um estudo ou pesquisa.
Essas trajetórias foram classificadas em quatro tipos: Trajetória regular, Conclusão com atraso, Permanência sem conclusão, Trajetória interrompida. Os resultados mostram que, nas coortes analisadas, cerca de 21% concluíram o ensino fundamental e 17% finalizaram o ensino médio com um a dois anos de atraso. As trajetórias não regulares, principalmente as trajetórias interrompidas, prevalecem entre estudantes com deficiência, do sexo masculino, negros, indígenas e de baixo nível socioeconômico.
A Figura 3 do artigo mostra esses resultados para a coorte 5, a mais jovem dentre as analisadas, formadas por estudantes nascidos entre 2004 e 2005.
A figura mostra as proporções de trajetórias regulares, de conclusão com atraso, de permanência sem conclusão e interrompidas de estudantes classificados por condição de pessoa com deficiência, sexo, raça/cor e nível socioeconômico, dividido em quintis.
O estudo também mostra que há uma enorme desigualdade regional nos resultados de permanência escolar. A Figura 4 do artigo mostra que, na maior parte dos municípios do Pará e do Amazonas, menos de 45% dos estudantes terminam o ensino fundamental com trajetória regular. Por outro lado, no estado de São Paulo, a maioria dos municípios garante que mais de 75% dos estudantes tenham trajetórias regulares nessa etapa de ensino.A figura mostra a distribuição de trajetórias regulares no ensino fundamental entre os municípios brasileiros. Nos estados do Norte, prevalecem trajetórias irregulares, enquanto em São Paulo, Minas Gerais e Paraná, mais de 60% dos estudantes terminam o ensino fundamental com trajetórias regulares.
O painel longitudinal usado nessa pesquisa foi construído pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), a partir da união e tratamento dos dados de cada edição do Censo Escolar, que coleta, anualmente, informações sobre quase 50 milhões de estudantes em todas as escolas do país.
Ao final, a pesquisa recomenda que a trajetória dos estudantes deve ser considerada para o monitoramento tanto da qualidade como da equidade no ensino fundamental e médio. Em especial, porque os dados longitudinais possibilitam acompanhar os casos de estudantes que interrompem suas trajetórias escolares e estão fora da escola.
Além disso, a pesquisa evidencia que as desigualdades educacionais observadas no desempenho já estão anunciadas nas trajetórias dos estudantes. O monitoramento de trajetórias cria a possibilidade de focalização de políticas públicas para estudantes em maior risco de não permanecer na escola até a conclusão da educação básica.
REFERÊNCIAS
Fonseca, I. C. da, Rodrigues, C. G., Macana, E. C., Alves, M. T. G., & Soares, J. F. (2024). Monitoramento das trajetórias educacionais nos municípios. Estudos em Avaliação Educacional, 35, e10579.https://doi.org/10.18222/eae.v35.10579
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http://educa.fcc.org.br/scielo.php?pid=S0103-68312024000100020&script=sci_arttext
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OSF | Regularidade de Trajetórias Educacionais