Desordem nas escolas afeta adolescentes paulistanos de maneira desigual
Estudo com quase 3 mil estudantes compara a estrutura e a desordem observada em 119 escolas municipais, estaduais e privadas na cidade de São Paulo
Ambiente escolar e desigualdade: um reflexo da sociedade?
A qualidade do ambiente escolar pode impactar profundamente a vida de crianças e adolescentes. Para analisar como estão as escolas na cidade de São Paulo, um estudo da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo observou a infraestrutura, a organização e a desordem física de 119 unidades municipais, estaduais e privadas. Pesquisadores visitaram as unidades entre 2017 e 2019 e encontraram um cenário de contraste preocupante: enquanto as escolas privadas oferecem mais recursos e melhor manutenção dos espaços, as escolas públicas – especialmente as estaduais – sofrem com diversos elementos de desordem, como janelas quebradas, pichação, móveis danificados e banheiros sem manutenção adequada. Enquanto a maioria das escolas privadas (90,3%) dispõe de laboratório de ciências, esse recurso está presente em apenas duas de cada dez escolas estaduais. Essa diferença também se reflete na análise de 19 elementos de desordem. Embora 96,8% das escolas privadas apresentem, no máximo, um elemento de desordem, uma parcela significativa das escolas municipais e estaduais possui mais de dez, sendo essa a realidade de 10,4% e 23,1% dessas instituições, respectivamente.
Como a pesquisa foi realizada?
O estudo utilizou dados do Projeto São Paulo para o Desenvolvimento de Crianças e Adolescentes (sp-proso) que entrevistou 2.680 estudantes de cerca de 15 anos para entender fatores que influenciam sua saúde e experiências de violência (Peres et al., 2018). Os pesquisadores analisaram a estrutura física e administrativa das escolas, além de taxas de aprovação e abandono escolar. Também observaram sinais diretos de degradação nos espaços internos e entorno das escolas.
O que isso significa para os estudantes?
A diferença na qualidade do ambiente escolar pode afetar o desempenho acadêmico e saúde mental dos adolescentes. Estudos internacionais já mostraram que escolas organizadas favorecem o aprendizado e reduzem comportamentos de risco. No Brasil, a desigualdade estrutural entre escolas públicas e privadas pode contribuir para aprofundar as já conhecidas desigualdades sociais, impactando as oportunidades para determinados grupos.
Desafios e perspectivas
Os resultados reforçam a necessidade de políticas públicas que garantam melhores condições às escolas públicas, promovendo um ambiente seguro e propício ao desenvolvimento dos estudantes. O acesso igualitário a uma infraestrutura escolar de qualidade não deve depender da rede de ensino, pois é um direito dos adolescentes e das suas famílias.
Referências
Peres, M. F. T., Eisner, M., Loch, A. P., Nascimento, A., Papa, C. H. G., Azeredo, C. M., et al. (2018). Violência, bullying e repercussões na saúde: Resultados do Projeto São Paulo para o desenvolvimento social de crianças e adolescentes (sp-proso). São Paulo: Departamento de Medicina Preventiva/FMUSP.
Leia o artigo em
https://publicacoes.fcc.org.br/cp/article/view/11159
Saiba mais
Projeto sp-proso: https://sites.usp.br/sp-proso
Censo Escolar: https://www.gov.br/inep/pt-br/areas-de-atuacao/pesquisas-estatisticas-e-indicadores/censo-escolar