Estudo apresenta genealogia dos grupos de pesquisa em educação de jovens e adultos
Como se deu o processo histórico dos grupos de pesquisa em Educação de Jovens e Adultos (EJA) no Brasil? Que demandas históricas estão no cerne de sua constituição? A pesquisa desenvolvida por mim, Morgana Zardo von Mecheln, e pela professora Maria Hermínia Lage Fernandes Laffin investigou a origem dos grupos de pesquisa (GPs) em Educação de Jovens e Adultos (EJA) no Brasil.
O estudo teve como base um trabalho doutoral concluído em 2021 e uma nova investigação documental junto ao Diretório de Grupos de Pesquisa do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq). Sistematizamos o modo como esses grupos se formaram e como suas problemáticas se tornaram objetos de pesquisa. Os levantamentos identificaram a pós-graduação e os grupos como formação humana e acadêmica, traçando a genealogia dos GPs e a intelectualidade no campo da EJA.
Identificamos relações entre os membros dos grupos de pesquisa, com a ligação histórica entre orientadores e orientandos. Isso permitiu criar uma rede que mostra como os pesquisadores se dispersam e, em outros casos, se aproximam. Essa ligação não é sempre epistemológica, mas resulta da oferta de cursos de pós-graduação. Os GPs tornam-se centros importantes para a disseminação de estudos e isso evidenciou-se na genealogia.
Entendemos genealogia como o estudo da origem, evolução e dispersão de grupos sociais, sem recorrer a noções biológicas ou hereditárias. No caso da EJA, essa genealogia encontra quatro intelectuais brasileiros na base de sua constituição histórica: Amélia Domingues de Castro, Gerd Bornheim, Florestan Fernandes e Joel Martins. A aproximação com as raízes do pensamento na EJA, na maioria dos casos, acontece pela orientação. Alguns pontos: as perspectivas epistemológicas não são deterministas; assim como na genealogia genética, alguns traços se mantêm e outros, não. Consideramos que algumas orientações tinham um caráter meramente formal. Isso ocorreu principalmente nas décadas de 1950 e 1960, que dava ao orientador e ao orientando características diferentes das de hoje.
A formação intelectual do campo da EJA não acontece apenas na universidade: ela se dá no mundo, intensamente ligada às lutas societárias, nas dimensões políticas, acadêmicas, culturais e produtivas. Apostar na investigação sobre a EJA e sobre o que vem sendo produzido nesse campo é uma das possibilidades de fortalecimento da área, objetivando políticas de oferta de EJA, de formação docente e de financiamento para novas pesquisas.
Agradecemos aos intelectuais que vieram antes de nós. Sua historicidade nos possibilita olhar para a riqueza da produção teórica, suas contribuições para as políticas públicas e para condições atuais dos GPs e da investigação na EJA no Brasil.
Figura 1 – Genealogia dos Grupos de Pesquisa em EJA
Fonte: Elaboração das autoras com base nos dados da pesquisa, 2019-2020Referências
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