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Estudo destaca fragilidades do Ideb e propõe caminhos para sua atualização

Pesquisa analisa o ensino médio no Espírito Santo e evidencia como avaliações podem reproduzir exclusões, indicando alternativas para reduzir desigualdades

Autor- Denilson Junio Marques Soares, Professor do Ensino Básico, Técnico e Tecnológico (EBTT), Instituto Federal de Minas Gerais (IFMG), Ouro Preto, Minas Gerais, Brasil, denilson.marques@ifmg.edu.br | Wagner dos Santos, Professor Associado, Universidade Federal do Espírito Santo (UFES), Vitória, Espírito Santo, Brasil, wagner.santos@ufes.br,Fluxo Educação | EAE -26/09/2025 18:41:34

O Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb), considerado o principal parâmetro da qualidade educacional no Brasil, pode contribuir para a exclusão escolar e o agravamento das desigualdades. É o que indica estudo que revisou a literatura sobre as fragilidades do Ideb e analisou dados longitudinais do ensino médio no Espírito Santo. Conduzida por Denilson Junio Marques Soares, do Instituto Federal de Minas Gerais (IFMG), e Wagner dos Santos, da Universidade Federal do Espírito Santo (UFES), a pesquisa demonstra que, da forma como é calculado atualmente, o Ideb apresenta limitações que comprometem a efetivação do Direito à Educação, garantido pela Constituição Federal (Brasil, 1988).

A investigação evidencia que o uso de médias de proficiência em Língua Portuguesa e Matemática, restrito aos anos finais dos ciclos escolares, não contempla o conjunto das aprendizagens previstas para a educação básica e tampouco revela a realidade de estudantes que enfrentam reprovação, evasão ou distorção idade-série (ocorre quando um aluno está com dois ou mais anos de atraso em relação à idade esperada para sua série escolar).


Além disso, o indicador não explicita desigualdades socioeconômicas, regionais ou raciais, o que dificulta a formulação de políticas públicas mais direcionadas. O estudo também alerta que o Ideb, da forma como está estruturado pode incentivar soluções superficiais, focadas em elevar taxas de aprovação para cumprir metas, sem garantir avanços efetivos na aprendizagem, fomentando práticas como fomentando práticas como a manipulação estratégica do sistema de avaliação (gaming, em inglês) e a inflação de notas (score inflation), fenômeno caracterizado pela elevação progressiva das pontuações ao longo do tempo, sem correspondente melhoria real da aprendizagem, o que compromete a capacidade de diferenciar níveis de desempenho e de reconhecer resultados verdadeiramente excepcionais.


Para enfrentar essas questões, os autores propõem um conjunto de mudanças que tornem o Ideb, atualmente em processo de atualização pelo Ministério da Educação (MEC), mais transparente, consistente e alinhado ao direito de aprender. Entre as recomendações estão a adoção de padrões de desempenho ponderados, que valorizem o progresso de estudantes em maior vulnerabilidade; mecanismos que inibam altas taxas de ausência nas avaliações; o monitoramento integral das trajetórias escolares, não restrito aos anos finais; e a inclusão de variáveis que explicitem desigualdades, possibilitando ações corretivas mais equitativas. O estudo ainda sugere a definição de metas compartilhadas entre escolas e redes, com o intuito de fomentar a corresponsabilização e assegurar o suporte necessário para resultados sustentáveis (Soares, 2023).


No contexto em que o Brasil discute o futuro do Ideb, as conclusões da pesquisa reforçam a urgência de repensar o indicador para que ele vá além de um simples instrumento de classificação e se consolide como uma ferramenta capaz de assegurar o direito a uma educação de qualidade para todos, especialmente para aqueles que historicamente foram deixados à margem pelo sistema.


REFERÊNCIAS

BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Brasília, DF, [2016]. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm. Acesso em: 30 jun. 2025.

BRASIL. Portaria n. 556, de 2 de outubro de 2020. Institui o grupo de trabalho responsável por elaborar estudo técnico para subsidiar a atualização do Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb). Brasília, DF: Presidência da República, 2020.


SOARES, D. J. M. Política de avaliação do ensino médio: uma análise envoltória de dados (DEA) a partir do Ideb para a identificação de escolas-referência no Espírito Santo. 2023. 214 f. Tese (Doutorado em Educação) – Programa de Pós-Graduação em Educação, Universidade Federal do Espírito Santo, Vitória-ES, 2023. Disponível em: https://sappg.ufes.br/tese_drupal//tese_17513_Tese%20Oficial_DenilsonSoares.pdf. Acesso em 30 jun. 2025.


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https://publicacoes.fcc.org.br/eae/article/view/11780 

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