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Estudo analisa os impactos da pandemia nos anos iniciais do Ensino Fundamental

Pesquisa revela que escolas de alto desempenho pré-pandemia foram as mais afetadas. O uso de recursos pedagógicos teve impacto limitado na mitigação dessas perdas

Autor- Adriano Souza Senkevics – Pesquisador, Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), Brasília, DF, Brasil. adriano.senkevics@ipea.gov.br Victor Gabriel Alcantara – Pesquisador, Universidade de São Paulo (USP), São Paulo, SP, Brasil. victorgalcantara@usp.br,Fluxo Educação | EAE -31/03/2025 16:14:09

Os efeitos da pandemia de covid-19 sobre a educação básica representaram transformações e consequências que ainda estão sendo mensuradas e pesquisadas. Pensando nisso,um estudo publicado na Estudos em Avaliação Educacional (EAE)analisou o impacto da crise no desempenho escolar nos anos iniciais do Ensino Fundamental, a partir dos  dados do Sistema de Avaliação da Educação Básica (Saeb) e do Censo da Educação Básica. 

Os resultados revelam que escolas de alto desempenho pré-pandemia sofreram as maiores perdas de aprendizado, sobretudo aquelas com menor capacidade institucional e que atendem alunos de baixo nível socioeconômico. Com isso, a pesquisa aponta que osistema foi nivelado por baixo

Como alternativa para evitar o contágio pelo novo coronavírus – cuja pandemia global foi declarada em 11 de março de 2020 –, escolas por todo o mundo tiveram de ser fechadas com a suspensão das atividades pedagógicas presenciais por quase todo o ano letivo de 2020 e parte do ano letivo seguinte. 

Por apresentarem maior dependência do acompanhamento escolar e docente, as crianças em seus primeiros anos de escolarização, por exemplo, foram as mais expostas ao risco de não aprendizado. Distantes da escola, elas tornaram-se mais dependentes do suporte familiar para acompanhar as atividades remotas e as lições de casa, o que tornou os efeitos deletérios da pandemia dramaticamente piores para os alunos mais vulneráveis. 

A pesquisa demonstrou que, embora muitas escolas tenham mobilizado recursos tecnológicos e pedagógicos para enfrentar o contexto pandêmico, eles não foram suficientes para conter a crise. O impacto foi mais severo em Matemática, com perdas equivalentes a mais de um ano letivo em algumas redes de ensino. De acordo com o levantamento, a perda de desempenho se concentrou nas escolas que antes apresentavam bons resultados, especialmente aquelas de baixo nível socioeconômico, comprometendo a equidade educacional e ampliando a distância entre estudantes em função da origem social. 

Por fim, a pesquisa alerta para a necessidade de estratégias robustas de apoio às escolas e aos estudantes, com o objetivo de garantir que as crianças tenham direito à recuperação da aprendizagem, para que, em caso de futuras crises, não  se aprofundem, ainda mais, as desigualdades que atravessam a educação brasileira. Para isso, segundo a pesquisa, é preciso considerar estratégias para mitigar os efeitos sobre os mais vulneráveis: investimentos em infraestrutura, formação docente e políticas de inclusão digital são fundamentais para um sistema educacional mais resiliente.

Referências:

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Costa, B. L. D., & Brandão, L. (2022). A resposta educacional dos municípios à Covid-19: Diversidade, trajetória e desigualdades. Cadernos Gestão Pública e Cidadania, 27(87), 1–20.https://doi.org/10.12660/cgpc.v27n87.86203 

Engzell, P., Frey, A., & Verhagen, M. D. (2021). Learning loss due to school closures during the COVID-19 pandemic. Proceedings of the National Academy of Sciences, 118(17). 

https://doi.org/10.1073/pnas.2022376118 

Lichand, G., Doria, C. A., Leal-Neto, O., & Fernandes, J. P. C. (2022). The impacts of remote learning in secondary education during the pandemic in Brazil. Nature Human Behaviour, 6(8), 1079–1086. 

https://doi.org/10.1038/s41562-022-01350-6 

Senkevics, A. S., & Bof, A. M. (2022). Desigualdades educacionais na pandemia: Análise das respostas das escolas brasileiras à suspensão das atividades presenciais em 2020. In G. H. Moraes, A. E. M. Albuquerque, & R. Santos (Eds.), Cadernos de estudos e pesquisas em políticas educacionais (Vol. 7, pp. 173–209). Inep.https://doi.org/10.24109/9786558010630.ceppe.v7.5574

Leia o artigo:


https://doi.org/10.18222/eae.v35.10525

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https://sites.google.com/view/asenkevics/

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