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“Nasce entre essas dobras”: tese premiada analisa processos de escolarização matemática de crianças no início da alfabetização

Pesquisa reconhecida na área de Ensino observou estudantes no 1º ano do Ensino Fundamental em uma escola pública de Campo Grande, no Mato Grosso do Sul

Autor- Jade Castilho,Fluxo Educação -09/12/2025 14:00:39

“A tese nasce entre essas dobras”. Vivian Nantes Muniz Franco define sua pesquisa de doutorado a partir do desejo de acompanhar as crianças em alfabetização, a necessidade de pensar a escolarização matemática para além das normas e dos cabimentos, e o esforço de manter o encontro em sala de aula mesmo em tempos de pandemia. 

Sua pesquisa de doutorado intituladaTem cabimento? Infâncias, matemáticas e vidas na “Dipiandenia”foi reconhecida como a melhor tese na categoria educação no Prêmio Capes de Tese 2025. O estudo foi elaborado no Programa de Pós-graduação em Educação Matemática da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS) durante o período de distanciamento social e ensino remoto emergencial causados pela covid-19. 

Os desafios, segundo Vivian, envolveram lidar com o "deslocamento permanente" da escola, com as telas instáveis, e a mistura da rotina escolar com o barulho e a presença da casa. A pesquisa se deu durante a pandemia, em um cenário instável e de presenças “parciais”. 

A escrita da tese em um formato próximo a de um diário, de forma não contínua e linear, relata as instabilidades da pesquisa e da pandemia, uma escolha teórico-metodológica, de acordo com a pesquisadora, que se relaciona e se aproxima com o cenário e contexto relatados. 

A observação da autora focou nos "encontros atravessados", analisando como a escolarização era tensionada pela pandemia e pelas invenções infantis. O objetivo não foi analisar desempenho, mas sim observar como as crianças criavam modos de aprender e estar presentes. 

“Acompanhar aquele cenário exigia aceitar que a pesquisa não se faria “apesar” da pandemia, mas no meio dela: entre silêncios, quedas de energia, ausências, pequenos desvios, fotos enviadas por uma mãe, vídeos curtos, capturas de tela. Foi assim que entendi que a escola não desapareceu. Ela se esparramou entre casas, conexões instáveis e presenças parciais. Pesquisar naquele contexto era estar com uma escola desencontrada, dispersa, porosa e ainda assim viva, relata Vivian. 

O conceito de “Dipiandenia”

Um dos conceitos abordados na tese é o deDipiandenia, uma palavra inventada a partir de um erro de escrita encontrado em uma plaquinha de planta ("Dipiandenia" em vez de "Dipladênia") em um espaço escolar. 

O termo, em destaque no título da pesquisa, representa a escola como uma "ramada", um espaço esparramado, entrelaçado e difícil de delimitar, onde as crianças criavam modos de aprender.

“Ela ajuda a pensar a escola daquele período como uma ramada: um espaço que se derrama, que faz conviver diferenças, que se entrelaça com o imprevisível. Um espaço onde as crianças inventavam modos de estar e aprender, mesmo quando quase tudo ao redor parecia instável”, comenta Vivian. 

Com relação ao ensino de matemática, especificamente para estudantes do 1° ano do Ensino Fundamental, ainda em alfabetização, a proposta da dipiandenia, enquanto um entrelaçar de movimento, imaginação, corpo, encontro, beneficia o processo de escolarização. 

“A dipiandenia convoca um emaranhado: vidas, gestos, telas, ausências, objetos, palavras erradas, brincadeiras, medos, encontros interrompidos, tudo isso junto, como ramas que se tocam e se afastam, que crescem para lados diferentes e, ainda assim, compõem uma só planta”, completa a pesquisadora. 

Tem cabimento?

A tese evidencia a potência de ceder aos desvios das crianças e de se desprender de alguns "cabimentos", ansiando por descontinuidades nas relações rígidas estabelecidas entre crianças, professores, Educação Matemática, escola e pesquisa.

Nesse sentido, reconhecer o pensamento infantil, afetar-se por gestos que não se encaixam ou por percepções que interrompem o roteiro podem anunciar brechas. 

“Ceder aos desvios é deslocar a atenção. É reparar no que acontece enquanto esperamos outra coisa. A matemática deixa de ser apenas conteúdo e passa a ser relação: movimento, imaginação, corpo, encontro. A entrada das crianças na escolarização matemática torna-se menos sobre adaptar-se a um modelo e mais sobre produzir com elas novos possíveis”, comenta Vivian. 

Sobre a premiação

Com relação à premiação, Vivian comenta como o reconhecimento amplifica o trabalho, dando visibilidade aos espaços e às pessoas envolvidas. O prêmio também reafirma e visibiliza os percursos de mulheres e mães na ciência e pesquisa.

“A tese nasce de encontros com crianças, de professoras, da escola pública, da universidade pública. Nasce de um trabalho feito no interior, no Mato Grosso do Sul, com todas as potências e desafios que isso carrega. Ver essa pesquisa ser reconhecida é ver esses espaços, essas pessoas e essas inquietações ganharem visibilidade”, finaliza a pesquisadora. 

Saiba mais

Prêmio CAPES de Tese

Instituído em 2005, o Prêmio Capes de Teses é concedido anualmente às melhores teses de doutorado defendidas e aprovadas nos cursos de pós-graduação reconhecidos pelo MEC, selecionadas em cada uma das áreas do conhecimento da Capes, considerando os quesitos originalidade e qualidade. Informações e inscrições no site da Capes.

Tem cabimento? Infâncias, matemáticas e vidas na “Dipiandenia”

Premiada:Vivian Nantes Muniz Franco

Instituição:Universidade Federal do Mato Grosso do Sul (UFMS)

Orientadora:Luzia Aparecida de Souza

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