Prevenir ataques às escolas exige olhar interseccional, aponta pesquisa
Jovens influenciados por extremismo online protagonizam ataques a escolas; prevenção exige ações no ambiente escolar e nas redes sociais
Os ataques armados em escolas aumentaram significativamente nos últimos anos no Brasil. Em sua maioria, são cometidos por jovens homens brancos, sem deficiência, e que eram alunos ou ex-alunos das instituições de ensino. Muitos relatam ressentimentos relacionados ao convívio escolar. Esses jovens também são acolhidos e incentivados por grupos de extrema-direita em fóruns e redes sociais, como Discord e X, que propagam misoginia, racismo e supremacia branca, e que cresceram em um contexto sociopolítico marcado pelo avanço do neofascismo (Vinha et al., 2023; Oliveira et al., 2023).
O artigo Convivência escolar e neofacismo: apontamentos para prevenir os ataques às escolas analisa o fenômeno a partir do feminismo decolonial e da interseccionalidade (Collins & Bilge, 2021), relacionando os ataques às violências históricas e estruturais do país, e busca apontar ações de prevenção e enfrentamento ao fenômeno.
O estudo mostra que as disputas de poder e a inferiorização reproduzidas na própria instituição escolar favorecem o silenciamento e a naturalização de violências, ocasionando violências mais amplas. Para enfrentar tal cenário destacam-se ações como o fortalecimento da gestão democrática e da participação comunitária, incentivo aos coletivos escolares, aferição do clima escolar e promoção de vínculos, como estratégias de abordagem da saúde mental, a formação em direitos humanos, educação midiática e promoção de um convívio escolar cooperativo e emancipatório.
O texto ressalta, por fim, a necessidade de decolonizar as relações escolares, combatendo hierarquias e normas opressoras ligadas a gênero, raça, sexualidade, corponormatividade e classe social. Por isso, aponta a necessidade de que o conjunto de membros da comunidade escolar esteja comprometido com o combate às violências, e, como expressam desde Freire e hooks a Lélia Gonzalez e Spivak, que aqueles que são oprimidos e subalternizados possam produzir conhecimento e participar da organização de suas realidades – algo que é ainda penoso na realidade da educação brasileira.
Em contraponto à colonialidade do ser, do saber e do poder no âmbito escolar, os autores ressaltam que pode haver a fundamentação nas maneiras de se relacionar, viver e ensinar que existem nos quilombos, nos territórios indígenas, nos coletivos negros, anticapacitistas e feministas, nos movimentos sociais de luta por moradia e pela terra. A proposta é construir coalizões entre movimentos e sujeitos que seguem na direção de uma diversidade de saberes, realizando a crítica à hegemonia do conhecimento e desafiando as estruturas que mantêm os privilégios do sujeito universal.
REFERÊNCIAS
Collins, P., & Bilge, S. (2021). Interseccionalidade. Boitempo
Oliveira, L., Costa, P., & Azevedo, T. (2023). Monitoramento das ameaças massivas de ataques às escolas e universidades: O papel das subcomunidades online que cultuam atiradores em escolas e sua relação com os boatos que produziram pânico generalizado no Brasil a partir do dia 09/04/2023 (Relatório de pesquisa)
Vinha, T., Garcia, C., Nunes, C. A. A., Zambianco, D. D. P., Melo, S. G. de, Lahr, T. B. S., Parente, E. M. P. P. R., Fogarin, B., & Oliveira, V. H. H. (2023). Ataques de violência extrema em escolas no Brasil: Causas e caminhos. D3e.
LEIA O ARTIGO EM
https://publicacoes.fcc.org.br/cp/article/view/11359