Primeira Infância: o papel da educação infantil no desenvolvimento do potencial de bebês e crianças
Pesquisadora da Fundação Carlos Chagas aborda caminhos para uma formação de qualidade
Os seis primeiros anos de vida de uma criança são compreendidos como a Primeira Infância, período da fase de maior desenvolvimento do ser humano, em que as conexões cerebrais ocorrem a um 1 milhão por segundo, momento em que 90% do cérebro é formado.
O entorno da vida e do cotidiano de bebês e crianças, a alimentação, os cuidados que recebem e suas vivências na Educação Infantil interferem nesse desenvolvimento.
Em agosto, se comemora o Mês da Infância e, em comemoração a essa data, aFundação Maria Cecilia Souto Vidigallançou o levantamentoPanorama da Primeira Infância: O que o Brasil sabe, vive e pensa sobre os primeiros seis anos de vida. Com 2.206 entrevistas em todo o país, o estudo ouviu a população em geral e responsáveis por bebês e crianças de 0 a 6 anos.
A pesquisa, realizada com o Datafolha, revelou que mais da metade da população brasileira (84%) não considera os anos iniciais como fundamentais para o desenvolvimento humano. De acordo com o estudo, 41% dos entrevistados consideram que o maior pico do desenvolvimento físico, emocional e de aprendizagem ocorre na idade adulta, a partir dos 18 anos.
Mas quais seriam os critérios que precisam ser considerados para o atendimento a bebês e crianças na Educação Infantil, especialmente na Primeira Infância?
Em outubro de 2024, as Diretrizes Operacionais de Qualidade e Equidade para a Educação Infantil foram atualizadas, no âmbito do Conselho Nacional de Educação (CNE). Os Parâmetros Nacionais de Qualidade e Equidade para a Educação Infantil, os PNQEI, foram revisados em 2024 a partir do processo de debate e consulta pública da sociedade brasileira, pesquisadores, especialistas e representantes da sociedade civil.
Os Parâmetros Nacionais de Qualidade e Equidade estabelecem padrões e referências para os sistemas de ensino e se constituem como um instrumento de referência para a luta na direção de uma Educação Infantil que promova o desenvolvimento integral das crianças, desde bebês.
Marisa Ferreira, pesquisadora do grupoEducação e Infância: Políticas e PráticasdoDepartamento de Pesquisas Educacionais da Fundação Carlos Chagas (DPE/FCC), acompanhou os debates acerca da atualização do documento
"O Brasil é um país que tem um problema profundo em termos das desigualdades sociais, e isso se reflete nas desigualdades educacionais. Tem criança que tem acesso à escola, tem criança que não tem acesso à educação infantil, tem criança que tem atendimento de melhor qualidade e tem criança que não. E isso é grave, em termos de um país que se pretende democrático. É urgente que as políticas educacionais efetivamente atuem na direção da equidade do atendimento. E isso significa cumprir com o compromisso de qualidade estabelecido nos documentos oficiais da Educação Infantil, garantindo boas oportunidades de aprendizagem e desenvolvimento pleno para todas as crianças, desde os bebês", comenta Marisa.
Um aspecto abordado com frequência nas pesquisas sobre qualidade da Educação Infantil diz respeito às interações das crianças. Nesse sentido, Marisa ressalta:
"A qualidade das interações das crianças com as professoras é uma variável de extrema importância para configurar um atendimento de qualidade. É no contexto dessas interações que possibilidades de conversas sobre os mais diversos assuntos, novas investigações, brincadeiras diversas são desencadeadas e se desenrolam criando oportunidades de aprendizagens nos diferentes campos de experiência das crianças", comenta.
A mediação das professoras nas interações das crianças com seus pares também é fator fundamental no coletivo da Educação Infantil, para a pesquisadora. As interações são definidas pelas Diretrizes Curriculares Nacionais como eixo do trabalho na Educação Infantil e devem ser cada vez mais trabalhadas.
"Nos Parâmetros Nacionais de Qualidade e Equidade para a Educação Infantil, revisados em 2024, há várias indicações na organização dos espaços internos e externos que favorecem essa questão (diferentes formas de organização do grupo, garantia diária das idas aos espaços externos, disponibilidade de materiais diversificados compondo diferentes ambientes na sala etc.)", completa.
Uma primeira infância bem cuidada é fundamental para que bebês e crianças possam alcançar todo o seu potencial no presente e no futuro.
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