O que os alunos devem aprender em leitura?
Para o planejamento do ensino e sua avaliação são necessárias referências consistentes que definam o que os estudantes devem aprender. Nesse sentido, este estudo propõe uma sistematização de objetivos de aprendizagem de leitura, abrangendo diferentes níveis de complexidade cognitiva.
Uma síntese que representa os objetivos da área de leitura e corrige ambiguidades e imprecisões desses objetivos é o resultado de um estudo que analisou mais de 1800 sentenças descritoras, que especificam o que se avalia em testes de larga escala e em descrições de itens de teste e documentos curriculares. A pesquisa é apresentada no artigo Descrição da competência leitora no ensino fundamental e foi realizada por Lauren Nogueira Barbosa e Daniel Abud Seabra Matos, da Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP), e por José Francisco Soares, da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). O trabalho pode ser usado por profissionais da educação envolvidos com o ensino e a avaliação.
As redes de ensino do país vêm trabalhando para adequar seus programas curriculares e materiais didáticos à Base Nacional Comum Curricular (BNCC), a fim de que eles tenham habilidades ou objetivos claros para guiar o ensino e a avaliação. Com base na Taxonomia Revisada de Bloom, referencial usado para categorizar níveis de complexidade em objetivos na educação, foi construído um modelo para sistematizar os termos empregados em objetivos de aprendizagem. Para isso, os autores identificaram os elementos de texto encontrados nas sentenças descritoras analisadas e selecionaram os verbos com significados precisos para indicar processos cognitivos envolvidos na leitura. O resultado foi um conjunto de 84 objetivos de aprendizagem de leitura.
O estudo enfatiza a ideia de que os verbos empregados em objetivos de aprendizagem têm significados específicos e, por isso, não devem ser usados aleatoriamente. Além disso, muitos objetivos de leitura encontrados apresentam baixa demanda cognitiva, o que contrasta com as práticas atuais da sociedade, que requerem que os estudantes interpretem, analisem e avaliem o que leem, precisando ir muito além da localização de informações no texto. Levando em conta esses aspectos, a pesquisa buscou diferenciar a complexidade entre os objetivos gerados: há diferenças, por exemplo, entre planejar aulas ou atividades de avaliação relacionadas aos objetivos “localizar informações explícitas no texto” e “avaliar a relação entre forma e conteúdo do texto”.
Novos trabalhos podem ampliar o material produzido nessa pesquisa. É o caso, por exemplo, de estudos sobre elementos envolvidos em tarefas de leitura, como a complexidade de textos, que têm potencial de contribuir para práticas de ensino e avaliação da competência leitora.
Referências
Anderson, L. W., Krathwohl, D. R., Airasian, P. W., Cruikshank, K. A., Mayer, R. E., Pintrich, P. R., Raths, J., & Wittrock, M. C. (2014). A taxonomy for learning, teaching, and assessing: A revision of Bloom’s Taxonomy of Educational Objectives. Pearson New International Edition.
Barbosa, L. A. M. N. (2020). Descrição e medida da competência leitora no ensino fundamental. [Dissertação de Mestrado, Universidade Federal de Ouro Preto]. Repositório Institucional da Universidade Federal de Ouro Preto. https://www.repositorio.ufop.br/bitstream/123456789/12494/1/DISSERTA%c3%87%c3%83O_Descri%c3%a7%c3%a3oMedidaCompet%c3%aancia.pdf
Potter, M. K., & Kustra, E. (2012). A primer on learning outcomes and the Solo taxonomy. University of Windsor.
Leia o artigo em:
https://publicacoes.fcc.org.br/eae/article/view/9183
Saiba mais:
PISA 2018 – Matriz de letramento em leitura
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