Estudo aborda o resgate da autoestima de jovens e adultos com a alfabetização
Pesquisa publicada pela Fundação Carlos Chagas analisou a implementação das estratégias do Programa Alfabetização Solidária
Identificar a rota dos ônibus, ler documentos oficiais, escrever cartas ou assinar documentos são tarefas e atividades que podem causar vergonha para quem não sabe ler e escrever. Pessoas analfabetas costumam ser narradas como pouco produtivas ou excluídas da sociedade.
De acordo com o Indicador de Alfabetismo Funcional (Inaf), oíndice de analfabetismo funcional no Brasilse manteve estável em 29%, mesmo patamar registrado em 2018. Dados como esse revelam o desafio em alfabetizar jovens, adultos e idosos no Brasil.
Segundo um estudo publicado em Cadernos de Pesquisa, da Fundação Carlos Chagas, ações e iniciativas voltadas para a alfabetização se apoiam no resgate da autoestima dos estudantes. Para a investigação, a pesquisa se dedicou a analisar um dos programas vigentes no início dos anos 2000 no Brasil, o Programa de Alfabetização Solidária, com o objetivo de identificar e analisar as práticas utilizadas para alcançar o aumento da alfabetização, com foco central no resgate da autoestima.
Criado em 1997 pelo Conselho da Comunidade Solidária, o Programa traçou como principal meta a erradicação do analfabetismo no Brasil. Municípios do Norte e Nordeste foram prioritários no atendimento e escolhidos de acordo com índices de analfabetismo registrados no censo do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE.
A iniciativa atuou também nas regiões metropolitanas do Distrito Federal, São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Goiânia, Fortaleza e São Luís, que concentram um número absoluto elevado de pessoas que não sabem ler e escrever.
O Programa funciona por meio de parcerias entre pessoas físicas e voluntários, que financiam a alfabetização dos alunos nos grandes centros urbanos; as empresas, organizações e instituições financiam a alfabetização de alunos nos municípios com elevados índices de analfabetismo; as instituições de ensino superior são responsáveis pela execução do projeto pedagógico, incluindo o aperfeiçoamento dos alfabetizadores; e as prefeituras oferecem os espaços físicos para funcionamento das salas de aula.
Para o estudo do Programa, a autora realizou uma análise dos textos presentes nas publicações usadas para referências e a recorrência das informações que fortaleciam o discurso da autoestima como condição para o aluno se alfabetizar.
De acordo com a pesquisa realizada, o Programa é composto por um conjunto de práticas que investem na elevação da estima aos outros e na autoestima, apostando no envolvimento, persistência e permanência do aluno no Programa para operar mudanças desejadas nos indivíduos e nos locais com elevados índices de analfabetismo.
"Resgatar a autoestima é uma tarefa considerada importante no processo de erradicação do analfabetismo", comenta Clarice Salete Traversini.
Por fim, o estudo aponta que a ênfase na elevação da autoestima se constitui como uma estratégia para agir sobre os sujeitos analfabetos, mobilizando-os a ingressar no Programa de Alfabetização Solidária e a permanecer nele.
Assim, ao agir sobre as ações dos alfabetizados, a partir do aumento da autoestima, tanto eles quanto o próprio Programa procuram atingir esse objetivo: alfabetizar-se e diminuir os níveis de analfabetismo no país.
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