Literatura e geografia como aliadas: experiência traz leitura de obras brasileiras e internacionais no aprendizado da cartografia
Experiência realizada na Universidade do Estado da Bahia desenvolve o conceito de geografia literária e inova na prática de estágio na licenciatura em geografia
Filho de uma devoradora de livros. É assim que o docente Glauber Barros, da Universidade do Estado da Bahia (UNEB), define sua paixão pela literatura, que o levou a ser reconhecido pela 15ª edição do Prêmio Professor Rubens Murillo Marques. O professor desenvolveu uma experiência formativa com estudantes do curso de Licenciatura em Geografia que usa da literatura para o ensino da cartografia.
Elaborada na disciplina de estágio supervisionado, a experiência proposta pelo docente é baseada no conceito, ainda em construção e proposto por ele, de geografia literária. Nesse sentido, a geografia literária utiliza a leitura de obras sob uma perspectiva geográfica, focando nos espaços, territórios, deslocamentos de pessoas dentro das histórias, entre outros aspectos.
"A ideia é pensar a literatura, a partir da leitura dos livros, dos clássicos, dos romances numa perspectiva geográfica, em que o olhar vai ser atento para a totalidade da história, ou seja, compreender a história daquele livro, entendendo especificamente os espaços, os territórios, a transumância, o deslocamento de pessoas, a migração", explica o docente.
Fugir do tradicional
A ideia de Glauber em unir literatura e geografia surgiu, além do seu gosto pelos livros, da necessidade de inovar o estágio dos alunos do curso de geografia e combater a baixa leitura dos textos, especialmente com o aumento observado da utilização de ferramentas de Inteligência Artificial (IA).
A proximidade com professores dos cursos de Letras no campus da UNEB em Caetité, onde leciona, também contribuiu para sua ideia de aliar literatura e geografia em sala de aula.
Para isso, logo no início de cada semestre, os estudantes da turma são convidados a escolherem seis livros de literatura brasileira e internacional indicados pelo docente para trabalharem durante a disciplina. Com a escolha das obras, a turma de alunos e alunas se dedica a um período de formação teórica em geografia de cinco semanas, abordando temas como uso do livro didático em sala de aula, o conceito de cartografia, relações étnico-raciais, combate ao preconceito em sala de aula, entre outros.
Em seguida, no contato com os livros de literatura, os estudantes passam a “buscar tesouros”, como conta Glauber. Com a leitura atenta dos livros, os educandos e as educandas são incentivados a mapear, durante a leitura, espaços, locais e descrições, ou seja, vão georreferenciando a história. Após a catalogação dos espaços, a turma passa a produzir seus mapas dentro da perspectiva da cartografia, uma ciência que une arte e técnica.
"Eles podiam ser criativos na produção dos mapas, desde que tivessem uma técnica cartográfica. Os elementos do mapa tinham que estar presentes, o título, as escalas, mas eles tinham a liberdade, a criatividade de explorar como seria aquela produção", comenta o docente sobre o processo.
Recepção do projeto nas escolas públicas
Finalizada essa etapa, a turma da disciplina de estágio inicia o processo de planejamento das oficinas que serão aplicadas por eles nas turmas de educação básica, onde farão os estágios.
Glauber Barros relata a recepção positiva do projeto nas escolas públicas, localizadas em Caetité, município no sudoeste da Bahia onde está localizado esse campus da UNEB, ou em municípios menores nas proximidades.
Com o apoio da coordenação e dos docentes das escolas, a experiência também é recebida de forma positiva pelos alunos da educação básica, com alta adesão e entusiasmo.
Ao produzirem mapas de suas próprias memórias e histórias, os estudantes das escolas se sentem protagonistas de seu próprio processo de aprendizagem.
Um dos exemplos mencionados por Glauber foi a leitura do livro Feliz Ano Velho, de Marcelo Rubens Paiva, em uma das turmas de estágio. Durante a experiência, os estudantes e estagiários compartilharam a leitura e detalharam o percurso realizado pelo personagem do livro, que sai de São Paulo para estudar em Campinas, sofre um acidente e vive outros episódios narrados na história.
A partir do livro, a turma da escola elaborou um mapa que contava a história do personagem, localizando cada local e espaço que Marcelo Rubens Paiva passou ao longo da obra. Durante a experiência formativa, outras propostas surgiram.
"Uma coisa que foi positiva da recepção dos alunos da Educação Básica foi que eles escolheram e pediram para fazer mapas das memórias deles. Emergiram mapas em que alguns contaram a partida dos pais para ir morar na capital, em Salvador, alguns contaram o deslocamento que fazem para estudar ou sair da roça, do campo, até chegar na cidade, o cotidiano de deslocamento dentro do transporte escolar, entre outras histórias", comenta Glauber.
O docente destaca a ideia de juntar literatura e geografia como um exemplo e que outras práticas podem inovar a aprendizagem em sala de aula, como o mapeamento de um filme, de uma música, uma história em quadrinhos, um gibi.
Formação de professores
Há dez anos, Glauber fez sua primeira inscrição no Prêmio Professor Rubens Murillo Marques com a experiência reconhecida neste ano. Com o amadurecimento e aprimoramento das atividades, o docente se preparou para uma segunda inscrição e obteve o reconhecimento na premiação.
"Eu sou o terceiro do Campus de Caetité da UNEB que consegue o prêmio. Então, assim, a gente luta por isso. A gente milita pelo protagonismo das licenciaturas, então, eu acho que o prêmio vem reforçar a importância da licenciatura dentro da universidade, dentro da Bahia", finaliza Glauber.
Acerimônia de premiaçãoserá realizada no dia 28 de novembro (sexta-feira), às 10h, com transmissão ao vivo no canal da FCC noYouTube.
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