Divulgação Científica

  • Início
  • |
  • Fluxo Educação
  • |
  • Ciência desde os primeiros anos: a importância da divulgação científica na educação infantil
www.fcc.org.br

Ciência desde os primeiros anos: a importância da divulgação científica na educação infantil

Textos informativos no cotidiano das crianças amplia o vocabulário, estimula a curiosidade e a criatividade, e promove o acesso democrático ao conhecimento científico na infância

Autor- Brenda Teixeira,Fluxo Educação -20/05/2025 17:24:35

Em tempos de emergência climática e crescente circulação de desinformação, é cada vez mais importante que os conhecimentos científicos estejam presentes desde os primeiros anos da vida escolar. Na Educação Infantil, isso não significa alarmar as crianças com sensacionalismos, mas sim contribuir para a construção de um olhar atento e curioso sobre o mundo, mediado pelo pensamento científico, uma ferramenta poderosa contra o negacionismo. 

A variedade de gêneros textuais, nesse sentido, enriquece as experiências linguísticas e cognitivas das crianças. A literatura é essencial para o desenvolvimento cultural e emocional, mas não deve se limitar às histórias ficcionais: os textos de divulgação científica também podem estimular a curiosidade, o pensamento crítico e incentivar o interesse pela investigação.

Com o objetivo de comunicar o conhecimento científico para um público não especializado a divulgação científica pode ser feita por meio de diversos formatos, como textos, vídeos, palestras e exposições. Quando direcionada ao público infantil, ela aborda temas cotidianos, como questões ambientais, o corpo humano, o espaço sideral e os animais, com linguagem acessível e recursos visuais atrativos. Ao terem contato com essas informações de forma lúdica e interativa, o vocabulário das crianças é expandido e elas aprendem a observar, comparar e adquirir uma visão própria sobre o mundo. 

Iniciativas como oJornal Joca, o único jornal para jovens e crianças, apresenta notícias, reportagens, entrevistas, curiosidades e assuntos do interesse das crianças e adolescentes, de forma contextualizada. A publicação estabelece um diálogo adequado à faixa etária dos leitores, tornando os conteúdos acessíveis e relevantes para esse universo. Já a revistaCiência Hoje das Crianças, produzida peloInstituto Ciência Hoje, desperta a curiosidade de meninos e meninas e mostra que a ciência pode ser divertida e que está presente na vida de todos. Em suas páginas, é possível encontrar assuntos como animais em risco de extinção, descobertas sobre o passado do planeta Terra, reflexões sobre o futuro, respostas a perguntas intrigantes e sugestões de experimentos aos pequenos leitores. 

Para isso, é essencial que as instituições de ensino mantenham acervos bem conservados, com uma seleção ampla e diversificada de títulos. Além dos tradicionais contos, fábulas e histórias de ficção, devem estar presentes textos informativos e explicativos, como os de divulgação científica. A forma como os livros são organizados também faz diferença: é importante que estejam acessíveis, incentivando a exploração individual e em grupo, promovendo a autonomia e o prazer da leitura para todas as crianças, inclusive aquelas com deficiência.

Marisa Vasconcelos Ferreira, pesquisadora doDepartamento de Pesquisas Educacionaisda Fundação Carlos Chagas, destaca que a diversidade textual deve ser acompanhada de critérios de qualidade. “Os Parâmetros Nacionais de Qualidade colocam como critérios a diversificação de temas e referências étnico-raciais, o interesse das crianças, a qualidade estética e a boa conservação”, explica. Ela também enfatiza a importância de renovar os acervos com frequência, incorporando novas temáticas e múltiplas linguagens compondo os livros, como escrita, desenho e fotografia, além de garantir formatos acessíveis, como exemplares em braile, audiolivros e materiais em Libras.

Mais do que dar suporte para a compreensão das múltiplas funções da linguagem escrita, como emocionar, narrar, explicar, argumentar e organizar, a oferta de diferentes tipos de textos tem o poder de inspirar acriatividade. Em 2022, oPrograma Internacional de Avaliação de Estudantes(Pisa) apontou que a maioria dos estudantes brasileiros “apresenta ideias óbvias e tem dificuldade de propor mais de uma solução para um problema”, ao serem desafiados a propor soluções de problemas sociais e científicos. Entre as propostas, estavam criar um pôster para a feira de ciências, nomear uma pintura em tela ou imaginar um diálogo entre o sol e a Terra. A avaliação também analisou a capacidade de expressão escrita e visual dos participantes.

Embora o Pisa avalie estudantes na faixa dos 15 anos, a educação científica e o desenvolvimento da criatividade e do senso crítico devem ser iniciados desde a primeira infância. 

O papel do professor na mediação da leitura 

Além dos materiais, é necessário que os adultos promovam momentos significativos de leitura, mediação e escuta. A criatividade nasce de estudos, interações, e principalmente, referências culturais. Referências essas que podem ser adquiridas a partir do nosso próprio modo de viver, mas também a partir da observação e do permitir-se observar o outro e do ambiente. 

Nesse contexto, o professor ou professora atua como um modelo de leitor, que compartilha com as crianças a alegria da descoberta e a construção conjunta do conhecimento. A leitura de um texto de divulgação científica, por exemplo, pode ser o ponto de partida para uma conversa investigativa, uma brincadeira imaginativa com elementos da natureza ou uma pequena experiência prática.

Marisa Vasconcelos ressalta que a mediação é também uma forma de inserir temas atuais no cotidiano escolar. “É importante reforçar que a proposta pedagógica da Educação Infantil tem o papel fundamental de ampliar o repertório sociocultural, linguístico, artístico, científico e tecnológico das crianças, desde a faixa etária dos bebês”, afirma. Segundo a pesquisadora, o papel docente vai além da apresentação de conteúdos: envolve a criação de contextos em que o pensamento científico possa se desenvolver de forma sensível e integrado às vivências da infância. 

A escola, ao apresentar a produção cultural e científica da humanidade, complementa, sem substituir, as experiências vividas em casa. “As famílias também fazem isso, mas as experiências de aprendizagem são diferentes, não se substituem. Se é assim, o conhecimento científico que é produzido pela humanidade deve fazer parte desse currículo da Educação Infantil. Não como “aulas de ciências”, mas como saberes que alimentam as diversas propostas pedagógicas.” pontua Marisa. 

Nesse sentido, garantir o acesso a livros e revistas com conteúdos fundamentados em ciência e relacionados à natureza e às relações sociais é essencial para fomentar esse ambiente de aprendizagem. “Em tempos de negacionismo científico e ampla circulação de desinformação, enriquecer o currículo com saberes científicos desde a infância torna-se ainda mais urgente”, complementa a pesquisadora.  

Incluir a divulgação científica no cotidiano da educação infantil é também uma forma de democratizar o acesso à ciência, reconhecendo a infância como etapa rica em potencialidades e digna de experiências culturais complexas. Essa abordagem amplia horizontes, alimenta a imaginação e aproxima os pequenos das múltiplas linguagens que compõem o mundo, inclusive a da ciência.

Por fim, diante do fato de quequase 30% dos brasileiros entre 15 e 64 anos são considerados analfabetos funcionais, ou seja, têm dificuldades para compreender textos básicos, expressar ideias por escrito ou resolver problemas simples de matemática, fica ainda mais evidente a urgência de de iniciar processos significativos de letramento desde a infância, com práticas que integrem leitura, interpretação e expressão. Segundo pesquisa da Ação Educativa e parceiros, esse índice se mantém estagnado há 15 anos.

A divulgação científica, ao despertar a curiosidade e propor questionamentos sobre o mundo, é uma ferramenta poderosa para fortalecer essas competências. Crianças que aprendem desde cedo a fazer perguntas, buscar informações e refletir sobre o que leem e observam, desenvolvem repertório e habilidades essenciais para se expressar e compreender o mundo que as cerca. 

Saiba mais

Jornal da Criança e Jovens

Revista Qualé

Curso on-line e gratuito  “Introdução à Ciência da Primeira Infância” - CPAPI (Centro Brasileiro de Pesquisa Aplicada à Primeira Infância)


Voltar